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Equilibrio

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Outras ideias

MIRIAN GOLDENBERG miriangoldenberg@uol.com.br

Casamentos proibidos

O casal formado por mulher bem mais velha que o homem sofre mais preconceito das próprias mulheres

Tenho pesquisado casamentos em que as mulheres são bem mais velhas do que os maridos. Muitas vezes, os filhos delas, de relações anteriores, têm a mesma idade dos maridos atuais.

Se a juventude é um valor e o corpo é um capital na cultura brasileira, por que está crescendo o número de homens que preferem mulheres mais velhas?

Os homens pesquisados revelam admiração, respeito, amor, desejo e reconhecimento pelas esposas.

Dizem que elas são superiores a qualquer outra mulher justamente por serem mais velhas, experientes, maduras. Essas qualidades, para eles, são mais atraentes do que um corpo jovem.

Para as pesquisadas, o olhar dos outros sobre o casal é motivo de constrangimento e de vergonha. Elas têm medo que pensem que o marido está interessado apenas no dinheiro, no poder ou no status delas.

Já os maridos afirmam que não se incomodam com a opinião dos outros.

Elas são mais vulneráveis e atentas à desaprovação social. Dizem que os maiores obstáculos ao casamento vieram das próprias mães e sogras. As filhas delas também provocaram conflitos no início.

Esse tipo de casamento parece sofrer mais preconceito justamente por parte das mulheres. Elas se preocupam mais com a opinião dos outros e criam mais obstáculos ao relacionamento.

Os casais que estudei, ao inverterem a regra segundo a qual os homens devem ser mais velhos, revelam uma lógica compensatória.

Elas têm mais idade, mas são consideradas menos infantis, menos ciumentas, menos dependentes do que as mulheres mais jovens.

Eles têm menos idade, mas são mais atenciosos, mais românticos, mais respeitosos do que os homens mais velhos.

Existe um equilíbrio interessante. Aparentemente, elas dão muito mais do que recebem em termos de posição social, maturidade, experiência, cuidado.

No entanto, eles dão aquilo que muitas mulheres desejam: a prova de que elas são especiais e de que a juventude não é a principal riqueza feminina.

Ao constatar a felicidade desses casais, descobri que, em vez de perguntar por que determinados homens casam com mulheres mais velhas, eu deveria questionar os motivos que levam a maioria deles a continuar preferindo casar com mulheres mais jovens.

E, também, questionar as razões que levam as mulheres brasileiras a aceitar e fortalecer, com suas inseguranças e seus preconceitos, o tabu da idade.

MIRIAN GOLDENBERG, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "Coroas; corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade" (ed. Record)


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