São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 2000
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Pacientes contam


As vidas da cearense Valéria Damasceno e do paulista Roberto são diferentes em quase tudo, sobretudo na idade. Valéria tem 12 anos e mora com os pais em Barbalha, município na divisa do Ceará com Pernambuco. Roberto, advogado aposentado que prefere não ter o sobrenome divulgado, tem 70 anos e mora em São Paulo, onde cabem 300 Barbalhas.
Em 24 de abril passado, os dois aguardavam a vez para se submeter a uma sessão de acupuntura, capaz de diminuir as náuseas causadas pela quimioterapia. Valéria trata de um tumor maligno localizado atrás da cavidade ocular. Roberto precisa da quimio para garantir que o câncer que o obrigou a retirar dois terços do estômago não espalhe pelo corpo.
"As crises da Valéria eram tão fortes que precisava ser internada horas depois de sair do hospital", conta a mãe, Maria de Lourdes Damasceno.
Uma das enfermeiras sugeriu então que Valéria tentasse as sessões de acupuntura do hospital. A jovem não pensou duas vezes: "Aceitaria qualquer coisa para não ficar mais enjoada".
Roberto também conseguiu se livrar parcialmente do enjôo pós-quimio após as sessões com o obstetra Hong Jin Pai, responsável pela acupuntura do HC. "Ele aplica uma injeção abaixo da orelha, e o alívio é imediato. As dores musculares diminuíram, e me sinto mais bem disposto."
O engenheiro Alexander Gromow, 53, também só conseguiu se livrar das dores de uma tendinite crônica nos pés depois de se tratar com Hong. "Chegaram a afirmar que as dores só parariam com cirurgia", lembra.
Outra técnica usada no combate à dor é a hipnose. A dona-de-casa Maria Darcy de Araújo, 55, tomava até 34 comprimidos por dia para aliviar as dores decorrentes de um tumor maligno na clavícula.
"Logo que acordava tomava sete analgésicos. Para dormir, também precisava de remédios." Ela foi uma das primeiras pacientes da hipnose no Hospital do Câncer. "Já durmo sem precisar me dopar. É como um sonho", diz ela, que também pôde reduzir a dose diária de analgésicos.
As terapias comportamentais também atuam no combate à depressão e ansiedade. Quando começou a sentir as fortes dores no abdome, em agosto passado, a aposentada Valdira Santana Santos, 56, relutou em ir ao médico com medo do diagnóstico. "Vivo sozinha e entrava em pânico só de imaginar que teria um pós-operatório sem ninguém ao meu lado."
Como as dores se tornaram insuportáveis, ela procurou o Hospital do Servidor, onde soube que teria de fazer uma laparoscopia para retirar pedras da vesícula. "Disse que preferia continuar com dor do que fazer a cirurgia. Foi aí que me recomendaram a meditação do hospital para diminuir a ansiedade", conta.
Cinco meses após a primeira sessão, Valdira foi submetida à laparoscopia. "Não fiquei nem 24 horas internada. Saí do hospital andando e fiz cafezinho para as amigas em casa." Ela atribui a recuperação rápida à serenidade conquistada na meditação. "Eu era ansiosa demais, tudo virava um drama. Foi a meditação que me devolveu a vontade de viver."


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