São Paulo, quinta-feira, 01 de fevereiro de 2007
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Corrida - Rodolfo Lucena

Contra o iPod

Walkman, MuVo, iRiver, Zune ou mesmo iPod. Qualquer que seja o seu tocador de música digital, faça um favor a si mesmo: deixe-o em casa quando sair para dar uma corridinha, mesmo que seja só em volta do quarteirão. Trata-se de uma simples questão de segurança. Quando você está ouvindo música, com aquele sonzaço todo ou um sonzinho maneiro tomando conta de seus cérebro e, especialmente, aqueles fones cobrindo seus ouvidos, "perde" um de seus sentidos.
"O alerta da audição fica prejudicado", adverte o fisiatra Gilson Shinzato, que atua no Sport Check-up do Hospital do Coração. "A pessoa pode deixar de ouvir um grito ou o som de uma buzina", completa Lúcia Ludeschen, educadora do trânsito da Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo. Clubes de corredores e organizadores de provas alertam para o problema. Em algumas provas no exterior, o uso do toca-MP3 é proibido, ainda que ninguém seja desclassificado por estar maquinado. E o New York Road Runners, que organiza a maratona de Nova York, "desaprova enfaticamente" o uso de fones de ouvido.
E é delicioso entregar os sentidos à corrida, beber o mundo em cada treino. Ao que tudo indica, você e a torcida do Flamengo não dão bola. O uso cresce, floresce e encontra apoio em pesquisas. Um estudo feito na Inglaterra em 2005 indica que a performance de quem pedala na ergométrica, nas academias, ao som da música pessoal, é até 13% superior à dos que pedalam sob o manto do silêncio.
No entender de psicólogos do esporte, música e outros estímulos (assistir à televisão, por exemplo) ajudam o atleta a esquecer a dor do esforço, e o tornam capaz de correr mais rápido ou por mais tempo. Nos Estados Unidos, há técnicos que gravam programas musicais para marcar o ritmo que seus orientandos devem manter em certas provas.
Mas isso não vale para a elite, a quem os iPods da vida só prejudicam. Os caras têm de se concentrar totalmente na vitória. Entregar à música um pedacinho do cérebro que seja pode significar aquele segundinho que o transforma em vice e não em campeão.


RODOLFO LUCENAautor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (ed. Record)

rodolfolucena.folha@uol.com.br

EXAGERO
Está previsto para a próxima segunda-feira o lançamento de "O Ultramaratonista", autobiografia do norte-americano Dean Karnazes, que acaba de correr 50 maratonas em 50 dias seguidos. A história dele é superbacana, e seus feitos, impressionantes, mas a editora brasileira exagerou ao afirmar que ele correu "dez maratonas em um único dia", como está escrito na capa da edição brasileira (foto). "Bem que eu gostaria de ser capaz de correr 262 milhas em 24 horas, mas não dá", disse Karnazes em entrevista a esta coluna. Leia a íntegra no meu blog (endereço abaixo).


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