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Outras idéias - Wilson Jacob Filho
Quem vai nos proteger?
Tenho aproveitado todas as chances para
conversar com quem
envelhece. Além do
tempo dedicado às consultas,
participo de palestras e de reuniões sobre esse tema, supostamente com o interesse de levar
informações que permitam aos
interessados tomar decisões
mais justificadas.
Em verdade, o interesse é
maior. Vou para aprender. Não
há melhor escola para saber
mais sobre envelhecimento do
que um local onde idosos se
reúnam para falar das suas experiências pessoais.
Na última da qual participei,
reunimo-nos em uma igreja para falar de saúde e de bem-estar. Rapidamente, o que era para ser uma apresentação seguida de um bate-papo se transformou em uma discussão sobre as dificuldades dessa fase.
Em meio às perguntas sobre
dores e limitações, surgiu o tema que faria daquela tarde algo
especial. Sentado no canto do
salão, Gregório questionou:
"Quem vai nos proteger dos interesseiros?" Segundos de silêncio. "O senhor sabe que o velho está na moda. Só se fala nisso. Agora tem tudo para a terceira idade: desconto na farmácia, curso de computador, viagem de turismo. Quem garante
que isso é bom?"
O tema não poderia ser mais
oportuno. A apresentação parou por ali e iniciamos um debate muito mais produtivo.
Melhor ter opções do que
não tê-las, isso foi tido como indiscutível. O idoso esquecido,
marginalizado, é fator de risco
para graves problemas sociais.
Por outro lado, ter de optar
exige discernimento e atitude.
Quem cultiva isso no avançar
da idade? Vivemos um modelo
cultural no qual esses atributos
são cada vez mais desenvolvidos na fase inicial da vida, dando à criança e ao adolescente
possibilidades maiores e mais
precoces de decidir coisas importantes para o seu futuro.
Aos idosos, porém, são impostas condições geralmente
determinadas pelos mais jovens. Embora a maior parte delas venha envolvida por uma
espessa cobertura de bons objetivos, o núcleo tira do idoso a
necessidade de pesquisar e escolher. E quem não escolhe fica
refém de quem escolhe por ele.
Caro Gregório, você tocou o
centro da ferida. Não bastará
criarmos melhores opções para
quem pretende envelhecer. Temos de criar a necessidade de
nos informar continuamente e,
baseados nas novas informações e na experiência acumulada, tomar as decisões que melhor combinam com as expectativas futuras de cada um.
Tratemos de nos preparar
para seguir decidindo o que nos
será favorável. Não há por que
delegar aquilo que ainda pode
ser feito por nós mesmos, os
maiores interessados.
WILSON JACOB FILHO
de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor de
"Atividade Física e Envelhecimento Saudável"
(ed. Atheneu)
wiljac@usp.br
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