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ROSELY SAYÃO
Pais estudantes
As escolas trabalham
com seus alunos há
mais ou menos dois
meses. É de se esperar
que, a esta altura, muitos estudantes já tenham percebido
que têm obstáculos a enfrentar,
dificuldades a superar, conflitos a resolver. Frequentar escola traz lá os seus problemas, todos sabem. No entanto, o que
não sabíamos é que boa parte
desses problemas acaba nas
mãos dos pais. Da educação infantil à faculdade, eles têm assumido muitos dos contratempos escolares dos filhos.
Pais de universitários tentam
negociar prazos de entrega de
trabalho com professores e
comparecem à faculdade para
resolver problemas dos alunos
com a secretaria. Muitos também são chamados pelas faculdades para reuniões e até recebem boletim de frequência e
avaliação do filho -isso sem falar de mestrandos e doutorandos em situação semelhante.
Não há dúvida de que esses
jovens, de classe média, estão
infantilizados, e nem sequer se
envergonham da situação. Ao
contrário: é de muitos deles
que parte o pedido de ajuda aos
pais. Justamente quando finalizam o processo de amadurecimento iniciado na adolescência
e estão prestes a entrar na vida
adulta, são seduzidos a estacionar, quando não a regredir.
Quem tem filhos cursando o
ensino médio ou o pré-vestibular carrega uma carga bem pesada. Pressionados pela sociedade, pressionam seus filhos
para que deem conta da enorme quantidade de conteúdo
passado pela escola e tirem
boas notas, para que não percam aulas, para que entrem em
uma faculdade reconhecida etc.
Contratam professores particulares -muitas vezes indicados pela escola que o filho frequenta!-, dão prêmios e castigos, controlam horários de estudos, tudo em função do rendimento escolar. Mas para
quem é importante, afinal, cursar uma faculdade?
Já quem tem filhos no ensino
fundamental acaba por ter de
atender a pedidos das escolas
para que resolvam questões de
indisciplina, de desatenção, de
comportamentos inadequados
ao espaço escolar, de recusa da
autoridade do professor etc. No
final, o aluno está lá na escola e
os pais, aqui fora, tentam interferir no comportamento dele
lá. Será que é possível? Tenho
dúvidas, já que, quando mudam
o papel social e o contexto, pode mudar muita coisa na maneira de se portar da criança.
Nem mesmo os pais das que
frequentam a educação infantil
ficam livres de arcar com questões da vida escolar dos filhos.
São pesquisas e lições para serem feita em casa, reuniões para ouvir análises que a escola
faz, ora do comportamento ora
do desenvolvimento de seus filhos e até receber algumas
orientações, inclusive de encaminhamentos.
Em resumo: hoje, quem tem
filhos na escola quase se torna
um repetente, já que precisa
dar conta de questões que lá
atrás, em sua infância, já foram
vividas. E quase sempre sem
contar com a ajuda dos pais, é
bom ressaltar.
Talvez uma boa parceria da
família com a escola pudesse
ser a de que ambas conseguissem ensinar aos filhos e alunos
que o compromisso escolar é
deles, e apenas deles.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@uol.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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