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foco nele
Asma exige tratamento pela vida inteira
GABRIELA SCHEINBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Tosse, mesmo que não acompanhada
de chiado no peito e falta de ar, pode ser
sintoma de asma. Adulto portador da
doença tem de tomar remédio a vida inteira. Já crianças asmáticas podem se livrar do problema quando adultas. As
afirmações são do pneumologista escocês Andrew Greening, 54, professor da
Universidade de Edimburgo, que esteve
no Brasil no mês passado participando
de uma campanha de controle da asma.
Segundo ele, falta informação sobre o
assunto entre pacientes e entre médicos.
"Isso ocorre principalmente entre os clínicos-gerais, que não têm o conhecimento do especialista", diz o médico.
No Brasil, há cerca de 16 milhões de asmáticos, e o número pode ser bem maior,
já que muitos têm a doença e não sabem.
Ela não tem cura, mas pode ser controlada. O problema é que muitos abandonam o tratamento, e o resultado é o aumento de internações. Calculam-se 400
mil hospitalizações de asmáticos por ano
no Brasil e cerca de 2.000 mortes.
"Em crianças, há vários estudos que apontam que, com o
passar dos anos, a asma desaparece. Mas isso só ocorre na
infância. Nos adultos, após controlar a doença, é possível
reduzir a medicação, mas o paciente terá de tomar o
medicamento para sempre"
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Folha - A asma está sendo diagnosticada
corretamente?
Andrew Greening - Acho que muitas
pessoas não sabem que têm asma. O mais
preocupante é que há muitos médicos
que não reconhecem que seus pacientes
têm asma. Isso ocorre principalmente em
casos em que a principal queixa é a tosse
que não é acompanhada por outros sintomas mais conhecidos, como chiado no
peito e falta de ar. Isso ocorre muito em
crianças. Elas começam a tossir à noite, e
os pais não sabem que isso pode ser um
sinal de asma. Se os pais levam a criança
ao médico, ele receita um xarope em vez
de fazer uma avaliação mais completa.
Folha - Como se reconhece a asma?
Greening - Prestando atenção aos sintomas: chiado, falta de ar e sensação de
aperto no peito. Pacientes mais velhos,
entre 50 anos e 60 anos, acham que esses
sintomas fazem parte do processo de envelhecimento e não dão importância.
Folha - O número de asmáticos está crescendo?
Greening - Definitivamente, há mais
pessoas com asma hoje do que há 20
anos. Estudos têm mostrado que há regiões, como o Reino Unido e partes do
Brasil e da América do Sul, em que a prevalência dos sintomas da asma em adolescentes com 14 anos supera os 20%.
Folha - Quais são os fatores que contribuem para esse aumento?
Greening - Há vários fatores. O tabagismo na gestação é um deles. As mudanças
na moradia -mais carpetes dentro de
casa, por exemplo- é outro. Acredito
que houve também um aumento da sensibilidade das pessoas aos animais. Principalmente os gatos podem estimular a
alergia e desencadear a asma. Houve
também mudanças na alimentação, que
contém mais preservativos e corantes,
substâncias que podem provocar alergia
em asmáticos. Há ainda a poluição, que
não causa asma, mas agrava os sintomas.
Folha - Por que é difícil para um paciente
aderir ao tratamento?
Greening - É da natureza humana querer se curar. Infelizmente, as drogas
atuais não curam o asmático, mas já controlam a doença. Enquanto os pacientes
estão usando os medicamentos, eles se
sentem muito bem, pensam que estão
curados e param de tomar os remédios.
Isso é um erro. É preciso informá-los de
que a doença é controlada, não curada.
Folha - Muitas pessoas temem usar
"bombinhas". Há razão para esse temor?
Greening - Não. As "bombinhas" administram doses baixas de drogas diretamente nos pulmões. Drogas orais precisam ter uma dose maior do produto, pois
são metabolizadas pelo fígado antes de
chegar ao local de ação. Não consigo entender por que as pessoas têm medo,
acho que há diferenças culturais. No Reino Unido e no norte da Europa, as pessoas acham que as "bombinhas" são ótimas. Já em países orientais e nos Estados
Unidos, as pessoas preferem usar remédios por via oral. Acredito que os pacientes não estão recebendo a informação
adequada sobre a "bombinha" e acabam
tendo medo do produto. A educação é
primordial para acabar com esse medo.
Folha - É necessário tomar ou inalar a
medicação todos os dias?
Greening - Os remédios não funcionam
muito bem se não forem usados diariamente. Isso não quer dizer que, se o paciente parar de tomar o medicamento,
ele se sentirá mal no dia seguinte. Pode
levar dias ou até semanas para a asma
voltar a piorar. Para os medicamentos
funcionarem adequadamente e para o
paciente ter a asma controlada, porém, é
preciso tomá-los todos os dias.
Folha - Por quanto tempo?
Greening - Em crianças, há estudos que
apontam que, com o passar dos anos, a
asma desaparece. Se estiver controlada
completamente, a medicação deve ser reduzida. Se a doença permanecer controlada, é possível continuar a reduzir a dose
até não precisar mais do remédio. Mas isso só ocorre na infância. Nos adultos,
após controlar a doença, é possível reduzir a medicação, mas o paciente terá de
tomar o medicamento para sempre.
Folha - É possível viver bem tendo asma?
Greening - Os tratamentos atuais melhoraram muito a qualidade de vida do
asmático. Muitas pessoas que têm asma e
que não são tratadas adequadamente
não percebem o quanto a qualidade de
vida delas é afetada. Elas mudam seu cotidiano para não desencadear uma crise.
Há crianças que não brincam por causa
da asma. Se a doença for tratada corretamente, elas poderão correr e brincar normalmente. Isso é qualidade de vida.
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