São Paulo, terça-feira, 01 de novembro de 2011
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CORRIDA

RODOLFO LUCENA - rodolfo.lucena@grupofolha.com.br

Sem atalhos


Essa nossa esperança vã de que é possível alcançar a boa forma sem fazer esforço sofre mais um duro golpe

AGORA É oficial. A Comissão Federal de Comércio dos EUA confirmou, carimbou e assinou embaixo, de papel passado: não há caminho fácil para o paraíso das belas pernas e do bumbum durinho. Processou a Reebok por propaganda enganosa, por causa dos anúncios da linha de calçados esportivos que prometiam melhora da musculatura das coxas, das panturrilhas e dos glúteos com o simples uso de tênis e sandálias.
A empresa fez um acordo e vai pagar indenização de US$ 25 milhões. Os clientes terão de pedir o reembolso.
Isso não significa que a Reebok admita culpa: diz não concordar com as alegações e que aceitou o acordo para evitar um longo processo.
Os produtos continuam a ser vendidos, mas a propaganda sofreu alterações determinadas no acordo. É mais um golpe na nossa vã esperança de que é possível chegar à boa forma sem esforço.
A cada dia somos bombardeados com dietas milagrosas, exercícios garantidos, líquidos e pozinhos que garantem fazer do mais raquítico vivente um Mr. Universo.
Não dá. "Tem de malhar", diz Emerson Magalhães, professor de musculação da academia Competition. E não é pouco, ao menos duas vezes por semana; se quiser ver os músculos brilhando, há que combinar com dieta. E os resultados só aparecem depois de dois meses, pelo menos...
O mesmo vale para corredores que desejam melhorar sua performance. Não há outro caminho senão os treinos de velocidade, os cuidados com a alimentação, o descanso, a vida mais ou menos regrada. Coisa difícil de manter se o sujeito não tiver muita vontade, não tiver um objetivo especial em mente.
É uma das razões, talvez, a explicar por que caímos no conto do caminho fácil. Ou por que atletas de alta performance buscam muletas ilegais para alcançar resultados que lhes dêem manchetes e dinheiro. Nesse caso, porém, não é propaganda enganosa: o doping de fato dá resultados, como comprovam as medalhas e os recordes batidos por atletas "batizados".
O castigo, porém, chega a cavalo. As trapaças vêm sendo descobertas mais rapidamente, e punições acontecem.
Além disso, os usuários dessas substâncias, diz Jomar Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, se arriscam a sofrer efeitos colaterais como tromboses, tumores e infarto.
Profissionais, amadores ou diletantes, estamos todos no mesmo barco quando a questão é baixar peso, ganhar músculos ou aumentar a velocidade. Há que suar. É bom, alegra e faz crescer. Vambora treinar!

RODOLFO LUCENA, 54, é editor do blog +Corrida (maiscorrida.folha.com.br), ultramaratonista, autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (Record)


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