São Paulo, quinta-feira, 02 de julho de 2009
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Correndo por uma causa

Do Quênia à Itália, atletas e organizações fazem da corrida uma forma de mobilização ou de propaganda de uma causa

RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA

Correr liberta. A frase, que parece saída de manuais de autoajuda ou de guias espirituais, tem um sentido muito prático, claro e concreto para um grupo de presos que, no mês passado, cruzou os portões de uma penitenciária de Madri para participar de uma corrida de longa distância.
Sem correntes nem escolta policial, percorreram 83 km, em três etapas, até o presídio da cidade de Estremera. Na empreitada, foram acompanhados por ativistas do grupo de apoio a detentos Correr Te Hace Libre, que orienta a prática esportiva de mais de uma centena de presos na Espanha, e pelo recordista espanhol da maratona Martín Fiz, 46, ex-campeão mundial da modalidade.
"Os atletas que chegam à elite do esporte mundial são uma referência para muita gente", disse ele em entrevista à Folha por e-mail. "Temos de dar exemplo e ser um exemplo para a sociedade. Desde que deixei o esporte profissional, direcionei minha atuação para projetos de solidariedade."
Como Fiz (bit.ly/rXFmG), atletas e organizações no mundo fazem da corrida uma forma de mobilização ou de propaganda de uma causa.
No Quênia, a ex-recordista mundial da maratona Tegla Loroupe usa sua fama para tentar interferir nos conflitos tribais no país. Desde 2003, a Tegla Loroupe Peace Foundation (www.tegla.org) organiza corridas pela paz, além de oferecer apoio a vítimas de conflitos e ter uma área de educação.
Também a rica Europa é palco para corridas por uma causa. Talvez o projeto mais abrangente seja o Vivicittà (cidade viva), que a cada ano reúne milhares de pessoas correndo por uma causa -inclusão social, combate ao racismo e apoio a vítimas de cataclismos já foram temas de corridas.
Nascidas na Itália no início da década de 1980, as corridas do Vivicittà foram criadas pela Uisp (Unione Italiana Sport Per Tutti), que, como diz o nome, é uma organização que trabalha com o objetivo de estender a todos o direito ao esporte, que considera parte do que chama "política da vida".
"O esporte para todos é um bem necessário à saúde, à qualidade de vida, à educação e à sociedade", diz a entidade em seu site (www.uisp.it).
Neste ano, com tema voltado para a defesa do ambiente, participaram do evento 34 cidades italianas, de Trapani, na Sicília, à capital, Roma. A empreitada também envolveu corredores em presídios e abrigos de menores. Fora das fronteiras italianas, mobilizou cidadãos em 20 cidades -Budapeste (Hungria), Gomel (Belarus), Kinshasa (Congo), Makeni (Serra Leoa) e Beirute (Líbano) foram algumas delas.
Pela primeira vez, o Brasil fez parte do evento. Uma caminhada na abertura da 3ª Semana dos Povos Indígenas, realizada em abril em Belém (veja fotos em bit.ly/17wRJZ), marcou a presença brasileira na mobilização internacional.
É assim que esse esporte tão individual e solitário gera uma riqueza coletiva, como explica a doutora em educação física Elizabeth Pauliello, vice-presidente da Isca (associação internacional para o esporte e a cultura, isca-web.org/english), uma das parceiras internacionais do projeto Vivicittà.
"As corridas geram uma grande massa, uma grande energia, uma grande movimentação entre as pessoas, que favorece esse tipo de iniciativa e estimula essa coisa do social, da integração maior e da ajuda entre as pessoas", diz ela.


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