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Correndo por uma causa
Do Quênia à Itália, atletas e organizações fazem da corrida uma forma de mobilização ou de propaganda de uma causa
RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA
Correr liberta. A frase,
que parece saída de
manuais de autoajuda
ou de guias espirituais, tem um sentido muito
prático, claro e concreto para
um grupo de presos que, no
mês passado, cruzou os portões
de uma penitenciária de Madri
para participar de uma corrida
de longa distância.
Sem correntes nem escolta
policial, percorreram 83 km,
em três etapas, até o presídio da
cidade de Estremera. Na empreitada, foram acompanhados
por ativistas do grupo de apoio
a detentos Correr Te Hace Libre, que orienta a prática esportiva de mais de uma centena
de presos na Espanha, e pelo
recordista espanhol da maratona Martín Fiz, 46, ex-campeão
mundial da modalidade.
"Os atletas que chegam à elite do esporte mundial são uma
referência para muita gente",
disse ele em entrevista à Folha
por e-mail. "Temos de dar
exemplo e ser um exemplo para a sociedade. Desde que deixei o esporte profissional, direcionei minha atuação para projetos de solidariedade."
Como Fiz (bit.ly/rXFmG),
atletas e organizações no mundo fazem da corrida uma forma
de mobilização ou de propaganda de uma causa.
No Quênia, a ex-recordista
mundial da maratona Tegla
Loroupe usa sua fama para tentar interferir nos conflitos tribais no país. Desde 2003, a Tegla Loroupe Peace Foundation
(www.tegla.org) organiza corridas pela paz, além de oferecer
apoio a vítimas de conflitos e
ter uma área de educação.
Também a rica Europa é palco para corridas por uma causa.
Talvez o projeto mais abrangente seja o Vivicittà (cidade
viva), que a cada ano reúne milhares de pessoas correndo por
uma causa -inclusão social,
combate ao racismo e apoio a
vítimas de cataclismos já foram
temas de corridas.
Nascidas na Itália no início
da década de 1980, as corridas
do Vivicittà foram criadas pela
Uisp (Unione Italiana Sport
Per Tutti), que, como diz o nome, é uma organização que trabalha com o objetivo de estender a todos o direito ao esporte,
que considera parte do que
chama "política da vida".
"O esporte para todos é um
bem necessário à saúde, à qualidade de vida, à educação e à
sociedade", diz a entidade em
seu site (www.uisp.it).
Neste ano, com tema voltado
para a defesa do ambiente, participaram do evento 34 cidades
italianas, de Trapani, na Sicília,
à capital, Roma. A empreitada
também envolveu corredores
em presídios e abrigos de menores. Fora das fronteiras italianas, mobilizou cidadãos em
20 cidades -Budapeste (Hungria), Gomel (Belarus), Kinshasa (Congo), Makeni (Serra
Leoa) e Beirute (Líbano) foram
algumas delas.
Pela primeira vez, o Brasil
fez parte do evento. Uma caminhada na abertura da 3ª Semana dos Povos Indígenas, realizada em abril em Belém (veja
fotos em bit.ly/17wRJZ),
marcou a presença brasileira
na mobilização internacional.
É assim que esse esporte tão
individual e solitário gera uma
riqueza coletiva, como explica
a doutora em educação física
Elizabeth Pauliello, vice-presidente da Isca (associação internacional para o esporte e a cultura, isca-web.org/english),
uma das parceiras internacionais do projeto Vivicittà.
"As corridas geram uma
grande massa, uma grande
energia, uma grande movimentação entre as pessoas, que favorece esse tipo de iniciativa e
estimula essa coisa do social, da
integração maior e da ajuda entre as pessoas", diz ela.
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