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[+]CORRIDA
Rodolfo Lucena
Passadas políticas
O corredor é um animal
político. Cada vez que dribla
a preguiça, engana o cansaço,
coloca os tênis e sai às ruas,
faz uma declaração pública:
aqui vai alguém que quer melhorar de vida. É assim com
ricos e pobres, conservadores e progressistas, crentes e
ateus. O corredor persegue a
boa forma, a paz de espírito,
o ritmo mais intenso, a tranquilidade, a velocidade.
É uma busca solitária, que
parece ter até um quê de
egoísmo. Talvez por isso,
quando o conservador presidente francês, Nicolas Sarkozy, surpreendeu o país
com seus vigorosos treinos
públicos, o jornal "Libération" tenha perguntado: "Será correr algo de direita?".
Pode até ser, mas o fato é
que, mais e mais, as corridas
são usadas como arma de
mobilização e conscientização social. O encerramento
do Fórum Social Mundial
realizado no Quênia em
2007, por exemplo, não foi a
portas fechadas, mas nas
ruas, em uma corrida que
percorreu as favelas de Nairobi. Levavam a palavra de
ordem: "Um outro mundo é
possível, mesmo para quem
mora nas favelas".
Em outro quadrante, no rico e sofisticado Canadá, um
trabalhador negro levanta
em uma corrida a bandeira
da luta contra o racismo. Casado com uma branca, sofreu
na pele a discriminação, que
aguentou em silêncio até o
dia em que seu filho mais velho, então adolescente, foi
cercado e espancado por colegas de escola. Foi quando
Henderson Paris viu que não
poderia mais ficar calado.
Iniciou então a primeira
Corrida Contra o Racismo de
sua cidade, a pequena New
Glasgow. Brandindo o slogan
"Juntos, podemos fazer diferença", foi acompanhado por
três ou quatro amigos naquela empreitada, há 20 anos
(leia no blog entrevista exclusiva com ele).
O evento cresceu. Neste
ano, teve a participação de
centenas de pessoas e foi
apoiado até pela comunidade onde o ataque racista
acontecera.
Há movimentos menos
dramáticos: um sujeito já
correu a maratona de Nova
York vergado sobre o peso de
livros didáticos para protestar contra os preços das
publicações. No Ceará, um
grupo de pelados invadiu
uma corrida promovida por
um shopping local para denunciar supostas agressões
ao ambiente promovidas pelo empreendimento.
E, a cada semana, no Brasil
e no mundo, corridas de todo
tipo recolhem fundos para
causas como a luta contra o
câncer. Cada um a seu modo
ou unidos em milhares durante uma prova, os corredores reagem contra a estagnação, dizem "não" a males físicos e sociais. Parecem escrever com suas passadas uma
declaração de princípios:
"Apesar de tudo, nós nos
movemos".
RODOLFO LUCENA , 52, é editor de Informática da Folha, ultramaratonista e autor de
"Maratonando, Desafios e Descobertas nos
Cinco Continentes" (ed. Record)
rodolfolucena.folha@uol.com.br
www.folha.com.br/rodolfolucena
[!]MARATONA REDIVIVA
No domingo passado, aconteceu a 23ª edição da Maratona do Fogo, em Dourados (MS), depois de um hiato de 4 anos. As boas intenções dos organizadores não compensam falhas como a falta de água em vários pontos. Leia mais no blog.
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