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ROSELY SAYÃO
Estudo do meio
Hélio tem quatro anos
e freqüenta uma escola de educação infantil particular cuja mensalidade é menos de R$
200; João Pedro, 9, estuda em
uma escola pública; Mariana,
10, estuda em uma escola privada cuja mensalidade está perto
dos R$ 300; os pais de Vitor, 11,
pagam R$ 600 pela mensalidade e os de Beatriz e Gustavo, em
torno de R$1.500.
Há semelhanças e diferenças
entre essas escolas, mas pelo
menos uma atividade comum:
o estudo do meio, que é coqueluche educacional. Vale a pena
refletir sobre essa atividade que
interfere de diversas maneiras
na vida das famílias.
Esse método de ensino não é
uma inovação: na década de 80
já era utilizado, mas foi a partir
dos anos 90, quando oficialmente indicado pelos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), que ganhou maior investimento das escolas e, portanto,
maior visibilidade social.
O primeiro problema é que
qualquer atividade que envolva
a saída dos alunos da escola pode ganhar status de estudo do
meio. Os pais precisam saber
que um passeio, uma excursão,
um acampamento ou mesmo a
saída da classe para uma atividade cultural não constituem
propriamente estudo do meio.
Para ter tal designação, a saída
precisa fazer parte de um processo com metodologia própria, que envolve várias etapas
de trabalho com objetivos pedagógicos claramente definidos e integrados tanto ao currículo escolar quanto ao projeto
pedagógico da escola.
Um outro problema importante é a terceirização desse
serviço. Hoje já existe uma modalidade conhecida como "turismo pedagógico ou educacional", que rende um lucro considerável e que, por exemplo,
permite a uma escola que compre um pacote completo, com
transporte, monitores especializados em conhecimentos específicos e em recreação, sem
que a equipe da escola tenha de
se dedicar ao trabalho nem que
os alunos sejam co-responsáveis. Aliás, alguns desses locais
até oferecem acomodações que
permitem aos professores que
fiquem sem contato com os
alunos. Isso não pode ser chamado de estudo do meio.
Muitas escolas justificam as
saídas pela socialização entre
os alunos e com os professores.
Não: o estudo do meio tem a ver
com o ensino do espírito investigativo e metodológico.
Também são problemas importantes o custo da saída e a
escolha do local do estudo.
Qualquer saída precisa permitir a todos os alunos que participem. Essa é uma questão que
interfere não apenas no orçamento familiar mas também na
cultura das famílias. Por isso, o
ideal seria que as saídas da escola fossem decididas em parceria -já que o estudo é da
competência da escola, e o estilo de vida fora do horário escolar é da competência dos pais. E
é bom lembrar que meio é qualquer lugar: pode-se estudar a
própria escola como meio, seu
entorno etc. Não é preciso ir
muito longe para isso, inclusive
porque as salas de aula são, por
excelência, espaços de ensino
do espírito pesquisador.
Para finalizar a reflexão, um
pouco de Clarice Lispector: "Eu
sei de muita coisa que não vi. E
vocês também, eu sei.".
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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