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Rosely Sayão
Comunicação com os filhos
Um fenômeno bem interessante tem ocorrido nas relações entre pais e filhos. Trata-se da dificuldade que muitos pais experimentam para conversar com os filhos sobre alguns fatos da vida deles -fenômeno que ocorre principalmente a partir da adolescência.
Primeiro, vamos entender
como essa comunicação ocorre
no início da vida das crianças.
Alguns pais conversam com
seus filhos pequenos como se
eles já fossem adultos. Isso significa ignorar que eles têm uma
visão especial do mundo, que é
fantástica e imaginativa. A fala
dos adultos, racional e objetiva,
é mais um fator a arrancar a infância das crianças.
Assim, muitas crianças pequenas são obrigadas a enfrentar conversas cheias de detalhes do universo adulto que não entendem ou entendem de modo muito peculiar. Só para
exemplificar: pais que se separam, cheios de boas intenções,
tentam explicar os motivos do
rompimento e terminam por
expor detalhes do relacionamento que a criança não deveria saber. Um garoto de quatro
anos, ao ouvir uma história de
fadas, comentou que o pai não
morava mais com a mãe porque
este havia sido enfeitiçado por
uma bruxa e era prisioneiro dela. Esse é o mundo infantil, é assim que a criança tenta entender o que ocorre à sua volta.
Bem, os filhos crescem e, aos
poucos, passam a se relacionar
com o mundo como adultos. É
uma aprendizagem, por isso
precisam da orientação dos
pais. É aí que a coisa pega, porque muitos pais criam um conflito: deixam que os filhos tenham vida de gente grande, mas se comunicam com eles
como se eles fossem crianças.
Vejamos alguns exemplos.
Uma mãe soube, pela amiga da
filha, que ela havia experimentado maconha e não teve coragem de abordar o assunto com
a garota. Outra mãe constatou
que o filho trazia da escola objetos que não eram dele e optou
por levar o menino, de 13 anos,
para um tratamento psicológico porque não conseguiu falar
com ele sobre o tema. Um casal
viu, num site de relacionamentos, que o filho se referia às mulheres de modo preconceituoso
e ofensivo, mas preferiu não dizer nada ao filho.
Nos casos citados, os pais ficaram melindrados para conversar com os filhos. E, em todos eles, os adolescentes já tinham condições de enfrentar
um diálogo franco e arcar com
as conseqüências de seus atos.
Aliás, todos eles precisavam da
orientação dos pais, não é?
Os filhos têm o direito de saber o que os pais sabem sobre a
vida deles e também o de ouvir
a opinião dos pais sobre o que
fazem e como vivem. Só tendo
uma relação transparente com
seus responsáveis eles aprenderão a agir da mesma maneira
na própria vida. Afinal, o que se
opõe à conversa franca e aberta
com o maior interessado, que é
quem toma determinada atitude, é a fofoca, não é?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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