São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2008
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[+] corrida

Rodolfo Lucena

Frio abrasador

Correr no frio é uma delícia. Os músculos parecem estar mais despertos, o corpo aparenta cansar menos e, mesmo que a gente seja um tanto ou quanto preguiçoso, acaba tendo de andar mais rápido para se manter aquecido.
O resultado é a obtenção de tempos melhores em provas. Não é à toa, por exemplo, que os recordes na maratona sejam batidos em provas realizadas a baixas temperaturas -Berlim, Londres, Chicago.
Mas há a contrapartida. Nos dias mais frios, a gente acorda já meio encarangado, pedindo para ficar mais um tempo na cama e ganhar chocolate quente. Com aquele bravo espírito de atleta, desafiamos a pachorra e saímos gloriosos para a rua, já mandando ver que é para o corpo aprender quem manda.
Num zás-trás, um músculo qualquer se encolhe, recolhe, estende, distende. Vem a pontada, a lesão. Pois no frio aumenta o risco de o esportista se machucar, ensina o médico Arnaldo José Hernandez, chefe do grupo de medicina esportiva do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da USP.
O que acontece é que os músculos ficam mais tensos e perdem um pouco da elasticidade. O atleta de fim de semana, que vai para seu futebolzinho dominical e manda ver, diz Hernandez, é a vítima típica. Mas o risco é para qualquer um que queira botar o corpo a funcionar de sopetão.
A receita preventiva é alongar e começar o exercício mais lentamente, para permitir que a musculatura se organize para enfrentar o que vem pela frente. É chato, mas se trata de reduzir riscos, especialmente para aqueles que estão treinando com algum objetivo pós-invernal.
Também é bom guardar a regata e o calçãozinho minúsculo, preferindo calça e camiseta de manga longa -claro que de tecido adequado para corrida. Se o frio apertar, use gorro e luvas -as mãos e as orelhas sofrem muito com o vento.
De qualquer forma, mantenha a indumentária leve, pois se encapotar todo acaba deixando o atleta mais pesado e ainda pode provocar uma espécie de efeito estufa ao contrário: o suor demora mais para evaporar e esfria o corpo.
E não deixe de se hidratar antes, durante e depois do treino. Se beber água faz com que você sinta mais frio, tente chá quente, sem açúcar. Chocolate não vale, diz a nutricionista Tânia Rodrigues, da RGNutri: "Há um consumo elevado de açúcar, gordura e, conseqüentemente, calorias".
Mas é bom. E ajuda a viver mais feliz...
RODOLFO LUCENA, 51, é editor de Informática da Folha, ultramaratonista e autor de ‘Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes‘ (ed. Record)

rodolfolucena.folha@uol.com.br

www.folha.com.br/rodolfolucena


Luva gelada

"A maratona de Nova York de 1995 começou com -2 OC e, ao, longo de todo o percurso, a temperatura ficou em 0 OC. Com o frio, não sentia muita sede. Além disso, cada vez que ia pegar água tinha de tirar a luva, ficando com mais frio. Acabei me hidratando menos. Como conseqüência, faltando pouco menos de 5 km para o final, senti que tudo começava a travar. Quando acabou a prova, entrei em hipotermia [diminuição excessiva da temperatura do corpo] e tive de ser atendido na tenda médica. Foi um sufoco..."


MÁRIO SÉRGIO ANDRADE SILVA, diretor técnico da assessoria esportiva Run&Fun


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