São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2008
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Sem emprego, sozinha, com câncer? O que mais poderia me acontecer?"

DA REPORTAGEM LOCAL

A redatora publicitária Mirela Janotti, 41, foi diagnosticada com câncer de mama em 2006 e passou todo o ano de 2007 lutando contra ele. Perdeu um namorado, mas conquistou outro, assim como aconteceu com o emprego. Foram oito sessões de quimioterapia, outras 25 de radioterapia, várias histórias e questionamentos que viraram livro. Munida do mesmo bom humor e otimismo com que conversou com a Folha, a autora reuniu sua experiência em "Força na Peruca - Tragédias e Comédias de um Câncer" (ed. Matrix), lançado em março de 2008. Leia a seguir trechos da entrevista. (JS)

O DIAGNÓSTICO
"O médico viu três nódulos, começou a franzir a cara, pediu nova biópsia. Eu já comecei a imaginar que era maligno, que teria metástase. Pensei que fosse morrer e me deu uma pena... Pensava: ‘Por que minha vida iria acabar tão cedo se eu gosto tanto de viver’?"

SILICONE
"O médico disse que eu perderia o seio todo, só pele e bico seriam preservados, e que poderia já colocar o silicone. Ele foi ótimo, já tinha até agendado com o cirurgião plástico. Depois da primeira cirurgia, descobriram metástase na axila e decidimos que tiraria a outra mama. Já saí da operação com silicone, não tive de passar pela sensação de não ter seios."

SEM NAMORADO E SEM EMPREGO
"A situação foi mais complicada porque estava com um namorado muito legal, mas que não segurou a onda e me deixou quando descobri que estava doente. Para piorar, estava sem emprego: uma coisa atrás da outra. Sem emprego, sozinha, com câncer? O que mais poderia me acontecer?"

ESPERANÇA
"Logo que fiquei sabendo da doença, uma amiga da minha mãe levou em casa uma moça que tinha passado pelo mesmo problema, da mesma idade que eu. Ela nunca tinha mostrado as mamas reconstituídas para ninguém e para mim ela mostrou. Ver ela ali, viva, me encheu de esperança."

VAIDADE
"Sou vaidosa para caramba, durante o tempo em que fiquei careca usava uns lenços coloridos, fazia um visual diferente, combinava as blusas com os lenços. Algumas pessoas achavam que eu os usava porque era meu estilo. Eu carregava na maquiagem, porque cílios e sobrancelhas tinham caído também, me produzia toda. Quando se está em cima do salto as pessoas passam a admirá-la."

CELEBRANDO A VIDA
"Um mês antes de ir para a consulta médica, fico cheia de encanações, começo a sentir dores no corpo, localizo uma pinta diferente... Quando abro o envelope e vejo que estou bem, dá vontade de dar uma festa, de comemorar mais seis meses de vida."

SEXO
"Meu novo namorado, que conheci em uma balada durante o tratamento, foi fundamental. O mastologista sempre me pergunta sobre a vida sexual, porque perdi a sensibilidade nos seios, mas isso não me atrapalha, porque, para mim, o sexo é um todo, começa na cabeça."

ORGULHO
"Ganhei mais simpatia das pessoas, parece que sou mais forte que a média, que eu sei mais coisas porque sofri mais. Parece ridículo, mas eu me orgulho de algo que foi uma tragédia. Isso passou a ser um ponto a mais no ‘currículo’. Sobrevivi a um câncer."


NA INTERNET
www.folha.com.br/081833
Leia texto sobre a história de Danielle Baron, autora do blog Contemporary Cinderella



Texto Anterior: Nova York tem festa do "câncer idiota"
Próximo Texto: Neurociência - Suzana Herculano-Houzel: O que faz o cérebro criativo?
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.