São Paulo, quinta-feira, 03 de agosto de 2006 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
s.o.s família Rosely Sayão Os pais de volta às aulas [...] Os pais estão submetidos a múltiplas pressões -mais ainda no que diz respeito à vida escolar dos filhos
O reinício do período
letivo traz de volta
questões delicadas
sobre a relação dos
pais com os filhos, com a vida
escolar e com a escola -tema
que me é bastante caro.
Recentemente, ao abordar a
pressão por rendimento acadêmico sofrida pelos filhos, um
leitor manifestou sua confusão.
Ele disse que, após ler as reflexões que fiz, ficou ainda mais
confuso porque já experimentara deixar os estudos como
uma responsabilidade dos filhos, mas que tal atitude não
dera certo e que, portanto, ele
não sabe como agir.
Precisamos reconhecer que
os pais estão submetidos a múltiplas pressões -mais ainda no
que diz respeito à vida escolar
dos filhos. Como os pais são
mais avaliados pelo comportamento dos filhos do que pelo
seu próprio, a performance escolar transformou-se em item
importante de avaliação.
Vejam só: quando um aluno
não vai bem na escola, os pais
são responsabilizados por isso,
direta ou indiretamente. E cada
escola tem os seus recursos para expressar esse posicionamento. Algumas utilizam a
agenda para enviar recados aos
pais e solicitar providências.
Outras preferem usar um recurso que provoca grande
apreensão nos pais: convocar
reunião. Há, também, a possibilidade de encaminhar o aluno
a atendimentos especializados.
De qualquer maneira, o que fica
oculto é que, de algum modo, os
pais estão em julgamento -já
que é nas mãos deles que se coloca uma possível solução.
As hipóteses que fazem sucesso nas escolas e que sustentam essa ótica são várias: falta
de envolvimento com a vida escolar, ausência de autoridade,
pouca disponibilidade para a
função educativa, superproteção etc. O que não se considera
é que, por mais que os pais se
dediquem à tarefa educativa,
seus filhos podem apresentar
baixo rendimento em alguns
períodos e atitudes de descaso
com as regras de convivência.
Não é necessariamente na escola e hoje que se podem constatar os efeitos de uma dedicada educação familiar.
Alguns leitores que escrevem
relatando as dificuldades com
os filhos contam que eles preferem futebol, internet e jogos
aos estudos. Não é de se estranhar essas preferências, é?
Mas, como os pais estão pressionados pelas escolas e pela
sociedade com a idéia de que o
filho terá um futuro melhor se
apresentar êxito nos estudos,
acreditam que um baixo rendimento coloca em xeque sua
atuação como pais.
E há uma conseqüência que é
agravante nessa história toda:
os pais têm tratado a vida escolar como se fosse uma questão
única na relação com os filhos e
na educação que praticam. Não
é. É apenas uma pequena parte
desse universo complexo e que,
por isso mesmo, não precisa ser
tratada com destaque.
Já faz tempo que testemunhamos a aproximação entre as
escolas e os pais. As razões para
essa relação são inúmeras, mas
quero destacar o reconhecimento de que ambas as instituições se defrontam com sérios limites na prática educativa. O problema é que a escola
reconhece os limites da família
e não os seus, e os pais apontam
os limites da escola e não reconhecem os seus. Nesse jogo de
empurra, sabemos de antemão
quem sai perdendo.
Se seu filho vai mal nos estudos, não quer fazer a lição, reclama da escola, resiste em abdicar de suas diversões para assumir a responsabilidade escolar, lembre-se: isso é normal.
Investir na educação para a autonomia possível, insistir na relação entre os direitos e os deveres e encorajar o filho para
que enfrente com bravura suas
dificuldades, por exemplo, são
atitudes que podem originar
melhores resultados. Mas esses
resultados podem não aparecer
a curto prazo, é bom lembrar, já
que a educação é um longo processo.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha) roselysayao@folhasp.com.br blogdaroselysayao.blog.uol.com.br Texto Anterior: Palestra aborda sexo e obesidade Próximo Texto: Memórias Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |