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OUTRAS IDEIAS
FRANCISCO DAUDT - fdaudt2@gmail.com.br
Sem drama e sem vexame
Eles souberam transmitir aos filhos a ideia de que sexo é uma coisa boa da vida
EDUARDO E MONICA tiveram um bom aconselhamento sobre como criar os filhos,
fizeram um bom casal e geraram Cristina e Rodrigo, com
três anos de diferença.
Eduardo se deslumbrou
com a dádiva do feminismo:
a paternidade participativa.
Acordou de madrugada, trocou fraldas, deu mamadeira,
pôs para arrotar, ninou na cadeira de balanço deixando
Monica dormir -um gesto de
amor com filha e mãe.
Quando Cristina cresceu,
Eduardo a viu na banheira,
deixando a água da torneira
correr sobre seus genitais.
-É uma delícia, não, filha?
-Como você sabe, pai?
-Porque já tive a tua idade, ora! Você já experimentou
o chuveirinho do bidê?
-Já...
-Então te peço que use o
bidê antes que a água de nossa caixa vá toda embora.
Adoro essa história de
Eduardo e a filha. Aceitar a
sexualidade dela passando
um ensinamento de economia me pareceu justo.
O fato é que quando Rodrigo tinha 12 anos foi perguntar
ao pai se masturbação doía.
E Eduardo respondeu:
-Bem, depois da quinta
vez em seguida, dói, sim!
-Ah, bom!, disse Rodrigo.
Eduardo e Monica transmitiram para os filhos a ideia
de que sexo era algo agradável da vida: nenhum drama,
nenhum vexame e todo o direito ao desejo. Sexo é algo da
natureza: se Deus nos deu,
ele não quer que nos envergonhemos disso.
Quando Cristina tinha 15,
Eduardo a flagrou ficando
com o amiguinho numa festa.
Ela já tinha explicado a ele
a diferença entre ficar, estar
ficando, namorar e morar
junto ("esse negócio de noivar é para gay, pai; e casar,
bom, pode ser"). Eduardo ficou perplexo, mas entendeu.
Depois, Cristina perguntou:
-Pai, você ficou meio bolado de me ver ficando?
Eduardo foi brilhante:
-Não, filha. Ficar é como
brincar de sexo. E, você sabe,
sexo é como dirigir: delicioso,
mas envolve riscos graves.
Você vê, eu tenho feito você
aprender a andar de velocípede, bicicleta, patins, cavalo, e tudo para quê?
Para que você tenha noção
de direção, distâncias, prudência, estabilidade, responsabilidade, respeito e cuidado com você e com o outro.
Para que obedeça regras e
exija que o outro as obedeça.
Era tudo uma brincadeira
que envolvia um conceito: você está se preparando para
uma prática que envolve algo
muito mais sério: o risco de
morrer, de matar e de ter sua
reputação arruinada. Vale
tanto para dirigir automóveis
quanto para praticar sexo.
Colocar cinto de segurança, usar camisinha, não beber antes de dirigir, não beber
com quem não confia etc.
Cristina abraçou seu pai,
grata e com orgulho.
FRANCISCO DAUDT, psicanalista e médico,
é autor de "Onde Foi Que Eu Acertei?",
entre outros livros
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