São Paulo, quinta-feira, 03 de setembro de 2009
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NEUROCIÊNCIA

Suzana Herculano-Houzel

Neuroliderança

[...] Sai-se bem o grupo cujo líder é capaz de ajudar sua equipe a vislumbrar soluções e encontrar o otimismo necessário para agir positivamente

As "neuroáreas" ainda estão em proliferação. Neurobiologia, neuroanatomia e neurofisiologia são as tradicionais, acompanhadas por irmãs mais novas, como a neuroimunologia. Neuroeconomia é um campo novo, fruto da colaboração entre economistas e neurocientistas, e eu até acho o nome necessário.
Outros, como neuropsicologia ou, pior, neuropsiquiatria, são redundantes: o que são psicologia e psiquiatria se não o estudo dos resultados comportamentais do funcionamento (normal e anormal) do sistema nervoso? "Neuroneurologia" seria o pleonasmo supremo, mas felizmente o Departamento de Dar Nomes às Coisas se absteve de chegar a esse ponto.
Na semana passada eu descobri que existe uma neurocoisa nova no pedaço: é a neuroliderança, já com instituto, reuniões e até revista. Mas entendo que dar nomes a coisas novas é uma maneira mais fácil de falar delas. Então, em vez de reclamar de mais um neuroneologismo, explico a que ele se refere: o reconhecimento de que alguns achados da neurociência são úteis para entender e aperfeiçoar a capacidade de liderança.
Liderança sempre me lembra o discurso inspirado de Henrique 5º (nas palavras de Shakespeare), que, na véspera do dia de São Crispim, incita seus soldados a lutar ao seu lado em uma batalha que se anuncia desigual e sangrenta, mas da qual eles saem vitoriosos. O episódio ilustra três das maiores habilidades de um líder: ele é altamente motivado e inspira motivação nos demais; é autoconfiante e digno da confiança dos outros; e não só tem ao seu alcance os meios para tomar o controle da situação como ajuda os outros a encontrá-los também.
A neurociência fornece insights úteis sobre motivação, relações sociais positivas (inspiradoras de confiança e de identidade com um grupo) e a importância do controle em situações de estresse. Sai-se bem o grupo cujo líder é capaz de ajudar sua equipe a vislumbrar soluções e encontrar o otimismo necessário para agir positivamente (já que a motivação é, para o cérebro, a antecipação do sucesso).
Lida melhor com problemas a equipe cujo líder delega poderes e responsabilidades (já que a sensação de controle é passaporte para a motivação). Funcionam melhor em equipe as pessoas que se identificam com um conjunto, cujas respostas emocionais aos colegas são de apego e colaboração. O resultado? Todos ganham!

SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog "A Neurocientista de Plantão" ( www.suzanaherculano houzel.com )

suzanahh@gmail.com


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