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NEUROCIÊNCIA
Suzana Herculano-Houzel
Neuroliderança
[...]
Sai-se bem o grupo cujo líder é capaz de ajudar sua equipe a vislumbrar soluções e encontrar o otimismo necessário para agir positivamente
As "neuroáreas" ainda
estão em proliferação. Neurobiologia,
neuroanatomia e
neurofisiologia são as tradicionais, acompanhadas por irmãs mais novas, como a neuroimunologia. Neuroeconomia é um campo novo, fruto da colaboração entre economistas e neurocientistas, e eu até
acho o nome necessário.
Outros, como neuropsicologia ou, pior, neuropsiquiatria,
são redundantes: o que são
psicologia e psiquiatria se não
o estudo dos resultados comportamentais do funcionamento (normal e anormal) do
sistema nervoso? "Neuroneurologia" seria o pleonasmo supremo, mas felizmente o Departamento de Dar Nomes às
Coisas se absteve de chegar a
esse ponto.
Na semana passada eu descobri que existe uma neurocoisa nova no pedaço: é a neuroliderança, já com instituto,
reuniões e até revista. Mas entendo que dar nomes a coisas
novas é uma maneira mais fácil de falar delas. Então, em
vez de reclamar de mais um
neuroneologismo, explico a
que ele se refere: o reconhecimento de que alguns achados
da neurociência são úteis para
entender e aperfeiçoar a capacidade de liderança.
Liderança sempre me lembra o discurso inspirado de
Henrique 5º (nas palavras de
Shakespeare), que, na véspera
do dia de São Crispim, incita
seus soldados a lutar ao seu lado em uma batalha que se
anuncia desigual e sangrenta,
mas da qual eles saem vitoriosos. O episódio ilustra três das
maiores habilidades de um líder: ele é altamente motivado
e inspira motivação nos demais; é autoconfiante e digno
da confiança dos outros; e não
só tem ao seu alcance os meios
para tomar o controle da situação como ajuda os outros a
encontrá-los também.
A neurociência fornece insights úteis sobre motivação,
relações sociais positivas (inspiradoras de confiança e de
identidade com um grupo) e a
importância do controle em
situações de estresse. Sai-se
bem o grupo cujo líder é capaz
de ajudar sua equipe a vislumbrar soluções e encontrar o
otimismo necessário para agir
positivamente (já que a motivação é, para o cérebro, a antecipação do sucesso).
Lida melhor com problemas
a equipe cujo líder delega poderes e responsabilidades (já
que a sensação de controle é
passaporte para a motivação).
Funcionam melhor em equipe
as pessoas que se identificam
com um conjunto, cujas respostas emocionais aos colegas
são de apego e colaboração. O
resultado? Todos ganham!
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog "A Neurocientista de Plantão" ( www.suzanaherculano houzel.com )
suzanahh@gmail.com
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