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Atitudes para combater paranóia
Evitar o preconceito
A visão preconceituosa já é uma
forma de violência e tem como uma de suas conseqüências
potencializar o problema, criando um ciclo vicioso. O comportamento individual de, em princípio, agir com temor a
minorias e/ou "estereótipos" (a pessoa mal-vestida, negra
ou de classe baixa, por exemplo) cria uma desconfiança generalizada nas relações humanas, "ampliando o clima e o
fato da violência", diz Mizne. Em uma pesquisa do Instituto
Futuro Brasil, divulgada em 2003, 89% dos entrevistados
disseram considerar prudente "ficar sempre com o pé atrás"
em relação aos outros. Para a historiadora Vera Malaguti,
toda a nossa insegurança de vida é descarregada no diferente de nós. "A insegurança é global, mas a gente fica com medo do menino, do filho da faxineira."
Controlar o medo
É uma reação automática quando a
ameaça se faz presente. Já o medo generalizado, sem critérios definidos, faz as pessoas agirem com irracionalidade, o
que, muitas vezes, gera mais violência. O professor de matemática e filosofia da educação Ubirantan D" Ambrósio acha
que o medo paranóico com um perigo apenas potencial (pode acontecer ou não) lembra a paranóia da Guerra Fria,
quando as duas grande potências mundiais da época, Estados Unidos e União Soviética, entraram numa corrida armamentista para se defenderem de uma ameaça que elas mesmas estavam criando. O medo também é um fator que restringe o simples ir e vir no cotidiano. "O efeito perverso do crime é que ele afeta os estilos de vida, a circulação e a capacidade que as pessoas têm de usufruir a cidade", diz o sociólogo
Leandro Piquet Carneiro, um dos coordenadores de uma pesquisa do Instituto Futuro Brasil sobre o perfil das vítimas da
violência em São Paulo, publicada em 2003. Por isso o medo
exige controle.
Controlar a obsessão
A violência existe, é
real, mas a obsessão, que leva o cidadão a achar
que vive correndo perigo a toda hora e em todo
lugar, só piora a vida. Sobre isso, Denis Mizne,
diretor-executivo do Instituto Sou da Paz,
afirma: "Os índices realmente altos de violência
continuam focados em alguns bolsões". O fato é
que o pensamento obsessivo prejudica uma
visão clara do grau de periculosidade das
situações e também de possíveis mudanças
positivas que estejam acontecendo. "Os índices
de homicídio em São Paulo caíram mais de 20%
nos últimos três anos, mas a percepção geral é
de que nada mudou", diz Paulo Mesquita, do
Instituto São Paulo Contra a Violência. Uma
pesquisa do Instituto DataBrasil e do Núcleo de
Estudos sobre Segurança e Política Criminal,
ambos da Faculdade Cândido Mendes (RJ),
mostra que a porcentagem de cariocas que
considera a violência grande em sua cidade
subiu de 51% em 1999 para 63% em 2003,
enquanto o número de vítimas caiu de 43% para
36%. O número ainda é muito elevado, mas a
reação parece desproporcional aos fatos.
Escapar do individualismo
Buscar apenas medidas
individuais de autoproteção "não está no cardápio das soluções possíveis", diz Mesquita. O problema não é individual,
portanto não será resolvido se cada um se isolar e só pensar
no bem-estar próprio. Exemplo: fechar a rua com guarita. Para Mizne, o caminho é ampliar o trabalho de conscientização
da comunidade e partir para ações concretas, como programas sociais focados em educação, cultura, que sejam opções
mais atraentes do que a violência.
Cuidar do afeto
Para combater a violência na sua raiz, o
que significa em casa e socialmente, é preciso dedicar-se à
manutenção dos vínculos afetivos e persistir na transmissão
de valores e modelos éticos. "O resto é política pública", diz o
psiquiatra David Levisky, do Instituto São Paulo Contra a Violência. O envolvimento dos pais na formação e na educação
dos filhos, geralmente, diminui o nível de violência na comunidade. O economista Ladislau Dowbor conta que, em algumas cidades dos Estados Unidos onde as mães se organizaram e foram pessoalmente buscar seus filhos nas "bocas" de
droga, o tráfico e o consumo diminuíram sensivelmente.
Selecionar informações
Absorver
passivamente qualquer informação sobre
violência só reforça o clima de obsessão reinante e acaba por difundir ainda mais a violência, e não necessariamente as soluções
para o problema. É preciso selecionar as fontes em que se busca informação e questioná-las ou refletir sobre elas. No livro "Cultura do
Medo", que inspirou o filme "Tiros em Columbine", de Michael Moore, seu autor, o sociólogo Barry Glassner, diz que, nos últimos
anos, nos Estados Unidos, houve um aumento de 600% na quantidade de notícias sobre
violência, enquanto as taxas de criminalidade caíram 20%. Atenção às crianças e aos
adolescentes: eles são mais propensos a reproduzir sem critério os modelos de violência
que consomem na mídia, porque seus valores e mesmo sua estrutura cerebral não estão
totalmente formados, diz o psicofisiologista
Kenji Toma. E a função dos pais é estabelecer
os padrões e limites a respeito do que os filhos podem consumir. Para Levisky, também é função dos pais agir como mediadores, conversando sobre as informações que
recebem, mostrando quais são seus parâmetros e valores em relação ao assunto.
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