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[+]CORRIDA
Rodolfo Lucena
Exame de consciência e profissão de fé
Quando minha mãe
queria me dar um
sermão, nos tempos idos, começava mais ou menos assim: "Rodolfo, põe a
mão na consciência e vê
se...", e por aí seguia. Há
quem faça isso diariamente,
revendo seu dia, buscando
falhas e refestejando conquistas, preparando a manhã
seguinte.
Alguns marcos históricos
em nossas vidas até parecem
clamar por um balanço: uma
semana de namoro, dez dias
sem chocolate, o primeiro
ano no novo emprego, cinco
anos de casamento...
Pois acabo de completar
dez anos de maratona. São
quase 30 provas de longa distância, uma fratura por estresse, duas hérnias e "ites"
de diversos tipos e intensidades. É uma boa hora para o
exame de consciência, para
tentar descobrir, afinal, o
que a corrida ensina.
O maior ensinamento talvez seja a dolorosa constatação de que não somos super-homens. Há limites bem
concretos, às vezes descobertos da pior forma possível. Erramos e erramos muito. E somos obrigados a, se
não aceitar o erro, saber que
é preciso conviver com ele,
como um rival inexorável.
Aprendemos também, por
outro lado, que somos super-homens. E isso é maravilhoso. É possível a um homem
sedentário, gordinho e desengonçado mudar, recriar a
própria história. E, com isso,
provocar impactos na história dos que o cercam.
Como diz Adriano Bastos,
hexacampeão da maratona
da Disney e vencedor da maratona de Porto Alegre: "A
corrida ensina a ter muita
paciência e, principalmente,
a trabalhar a superação,
acreditar que a gente sempre
pode chegar a um determinado ponto".
Esse ponto pode ser um
ganho de autoconhecimento, completa a maratonista
olímpica Marily dos Santos:
"Aprendi que o nosso horizonte é desenhado por nós
mesmos. O meu era pra ser
rural, depois ficou urbano,
depois ficou mundial. Aprendi que existia um mundo lá
fora muito maior do que o
que os meus olhos enxergavam quando eu era criança".
Ou um mundo cá dentro,
relata um atleta amador:
"Com a corrida, enxerguei o
que realmente era fazer um
esporte. Finalmente entendi
meu pai" (leia outros depoimentos no blog).
Correr transcende o exercício. É a conquista de um espaço, o desbravar de um território novo que você inclui
na vida. Treinando na rua ou
em academias, correndo por
diversão, para emagrecer ou
para melhorar o desempenho, a gente aprende a se expor e a ser mais verdadeiro.
Aprende a soltar amarras e
ampliar horizontes.
Por tudo isso, digo-lhe:
quero mais.
RODOLFO LUCENA , 52, é editor de Informática da Folha , ultramaratonista e autor de
"Maratonando, Desafios e Descobertas nos
Cinco Continentes" (ed. Record)
rodolfolucena.folha@uol.com.br
www.folha.com.br/rodolfolucena
[...]
"A CORRIDA ME ENSINOU VALORES IMPORTANTES COMO RESPONSABILIDADE, DISCIPLINA E RESPEITO. O ATLETISMO FOI A ÚNICA OPORTUNIDADE QUE TIVE NA VIDA. SOUBE APROVEITÁ-LA MUITO BEM E ME SINTO UM ATLETA REALIZADO."
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VANDERLEI CORDEIRO DE LIMA, medalha de bronze na maratona em Atenas-2004
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