São Paulo, quinta-feira, 04 de junho de 2009
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ROSELY SAYÃO

Conflito em casa


[...]
NA ADOLESCÊNCIA, OS FILHOS PERCEBEM QUE OS PAIS NÃO SABEM TUDO E QUE TAMBÉM TÊM CONFLITOS, PROBLEMAS E NECESSIDADES


Conversei com a mãe de um adolescente que está se sentindo rejeitada pelo filho.
Aos 16 anos, ele não aceita mais o que ela diz, sempre acha que sabe mais do que ela, que as opiniões dela são ultrapassadas e/ou ignorantes e demonstra intolerância pela maneira como ela se porta, se veste etc.
O filho também não acata as normas da casa: não respeita horários, se recusa a dizer aonde vai, não contribui com nada.
No confronto, ela sente que sempre sai perdendo. Essa mãe está à beira de desistir do final da jornada que começou quando o filho nasceu.
Conversei também com um adolescente que, aos 15 anos, reclamou muito da falta dos pais em sua vida. Ele contou que os pais dão a ele total liberdade, que não perguntam nada, que não se interessam pelas coisas que faz, que sempre elogiam sua vida escolar etc. Ele acha que a responsabilidade de decidir tudo sozinho é muito grande e disse que preferiria ter alguns conflitos porque, assim, saberia que seus pais se interessam verdadeiramente por ele.
Duas visões muito diferentes a respeito de uma mesma relação: a que ocorre entre pais e filhos quando chega a adolescência. A relação entre ambos muda bastante nesse período. Na infância, os pais são idealizados pelos filhos. São vistos como adultos que sabem e podem tudo, principalmente protegê-los e satisfazê-los.
Na adolescência, os filhos percebem que os pais não sabem tudo, que não podem protegê-los nem satisfazê-los e que também são pessoas com conflitos, problemas e necessidades. Nessa transição, ocorre o tal conflito de gerações.
Hoje, muitos pais se recusam a enfrentar esse período. Alguns delegam ao filho, repentinamente, todas as responsabilidades. Para eles, é como se os filhos passassem diretamente da infância para a vida adulta.
Outros se sentem impotentes e fragilizados para enfrentar os questionamentos que os filhos fazem a respeito de tudo.
Para eles, é como se perdessem, de largada, a autoridade que ocupavam perante o filho. Por último, há os que se recusam a aceitar seu amadurecimento.
Em todos os casos, as consequências não são boas para os filhos. Eles podem recusar qualquer instrução, aviso ou orientação ou se sentirem abandonados ou infantilizados.
Para quem está em processo de aquisição de autonomia e de formação da identidade adulta, a falta de contraponto entre a visão dos pais e a própria e a ausência de certas normas firmes impostas pela família impedem a segurança da transição.
Os conflitos entre filhos adolescentes e seus pais é saudável.
É por meio deles que o jovem cresce, amadurece, avalia suas convicções e a legitimidade delas para, então, usá-las em sua vida. Para tanto, os pais precisam ser potentes para reconhecer quando o filho ainda precisa da atuação deles e quando é preciso negociar, ceder.
É certo que os pais errarão na medida, em algum momento.
Mas devem, a todo custo, evitar errar pela ausência.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

rosely.sayao@grupofolha.com.br

blogdaroselysayao.blog.uol.com.br


Texto Anterior: Combate a doenças respiratórias
Próximo Texto: Bate-papo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.