São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2011
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ROSELY SAYÃO

CADA UM
COM SEUS PROBLEMAS



A escola não assume a responsabilidade de ajudar o aluno a acertar o passo com sua nova classe

DE QUEM são os problemas que os alunos enfrentam na escola? Deveriam ser deles, e só deles, e deveriam ser resolvidos lá, na própria escola.
Entretanto, hoje, os problemas são muito mais da responsabilidade dos pais do que dos próprios estudantes. Vamos analisar essa questão a partir de um exemplo?
A mãe de um garoto de 11 anos me escreveu contando sua saga. Ao fim do semestre letivo passado, descontente com os encaminhamentos dados pela instituição que o filho frequentava, ela decidiu transferi-lo. Você sabe o que isso significa, não sabe?
Essa mãe precisou conhecer várias escolas até conseguir escolher uma. A escola pediu um encontro com a criança, fez algum tipo de avaliação e disse que poderia, sim, aceitar a transferência. Foi o que a mãe fez.
Agora que o aluno já completa quase um bimestre na nova escola e apresenta alguns resultados nas avaliações o alerta vermelho foi acionado. Para a mãe.
O filho está com notas bem baixas em língua portuguesa, o que nunca acontecera anteriormente. Você já sabe como proceder em situações como essa, não sabe?
Mãe ou pai vão à escola conversar com alguém responsável. Pode ser o professor, o coordenador, o orientador. No caso de nossa leitora, foi a orientadora da classe quem a recebeu.
A mãe saiu de lá com uma orientação: providenciar aulas particulares para o filho. Com a transferência, aconteceu um imprevisto: o aluno já aprendera na outra escola conteúdos que ainda não foram dados na nova, mas ficou sem estudar outros. Por isso tem apresentado baixos resultados nas avaliações.
Em nenhum momento a escola assumiu a responsabilidade de ajudar o aluno a acertar o passo com a sua nova classe, tampouco passou o problema para que a própria criança o resolvesse. A questão foi parar mesmo é no colo da mãe.
E lá foi ela pesquisar aulas particulares. Se você já usa tal recurso, sabe o que significa: podem custar até R$ 80 cada uma. Tem mais: em geral, as professoras não aceitam uma aula por semana. No mínimo duas, para garantir a recuperação necessária.
E assim tem sido escrita a história da relação das crianças com suas vidas escolares.
Há um batalhão de adultos assumindo essa luta que deveria ser dos alunos, orientados e acompanhados por seus professores, na escola.
Isso tem acontecido principalmente -mas não apenas- porque elegemos a performance escolar das crianças como indicador das chances de seu futuro ser melhor ou pior. De acordo com esse pensamento, um bom aluno tem boas chances no futuro, um mau aluno, não. Se isso é verdade, não sabemos. Mas agimos como se fosse.
E nem nos damos conta de que, se isso valer -o que duvido- estamos atrapalhando nossas crianças. Sim porque, de quem tem sido a boa performance nesse contexto?
Dos pais, dos professores particulares, dos orientadores etc. Menos dos alunos.
A eles, só resta acatar as decisões que tomamos, passivamente. Numa boa hipótese, ele se rebelam contra elas, recusando o estudo e todas as suas implicações.
Como me disse outro dia um garoto de idade próxima ao filho de nossa leitora: "Quando eu vou mal na escola, minha mãe fica nervosa. Eu é que deveria ficar, não é? Mas ela não entende isso".
É, pelo jeito não temos entendido mesmo.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)


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