São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004
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Saúde

Ácido acetilsalicílico é testado na prevenção de doenças cardiovasculares

Aspirina para o coração

ANTONIO ARRUDA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Novos estudos sobre a eficácia do ácido acetilsalicílico comprovam que sua ação vai além de curar gripes e resfriados. Seu uso, no entanto, exige cautela por parte do consumidor.
Talvez você não se lembre de pronto do ácido acetilsalicílico, mas é provável que já tenha ingerido algum medicamento que utilize essa substância como princípio ativo. Doril, Aspirina, Melhoral e Buferin são apenas alguns dos cerca de 50 antiinflamatórios comercializados atualmente no Brasil que têm como base ou apenas o ácido acetilsalicílico ou ele associado a outras substâncias, como a estatinas, por exemplo.
Se o principal uso desses medicamentos ainda é combater os sintomas de gripes e resfriados, estudos científicos têm mostrado que o ácido acetilsalicílico pode atuar de forma mais ampla no organismo. Um dos estudos mais recentes sobre a substância foi apresentado no mês passado durante o Prêmio Internacional Aspirina, promovido pela Bayer e que aconteceu na cidade de Dresden, na Alemanha.
A pesquisadora Nina Grosser, do Departamento de Farmacologia e Toxicologia da Faculdade de Farmácia da Universidade Martin-Luther-Halle-Wittenberg (Alemanha), identificou que o ácido acetilsalicílico estimula a produção de óxido nítrico no endotélio (camada que reveste a parede interna das artérias), inibindo a oxidação que causa disfunção endotelial.
"Esse novo estudo vem acrescentar ainda mais dados à eficácia da Aspirina na prevenção de doenças cardiovasculares", disse, durante a premiação, Gisela Latta, médica do setor de Health Care da empresa Bayer.
Além dessa nova ação, segundo ela, o ácido acetilsalicílico reduz o risco de ataques cardiovasculares graves em 25% dos casos e o de infarto do miocárdio não-fatal em 34%, de acordo com uma meta-análise publicada em 2002 no "British Medical Journal" que envolveu 287 estudos com mais de 200 mil pacientes.
Além disso, segundo pesquisa publicada no ano passado na revista "Neuroscience Letters", pessoas que utilizaram remédios à base de ácido acetilsalicílico após sofrerem um derrame cerebral isquêmico recuperaram-se melhor da enfermidade do que as que não utilizaram o medicamento, que também reduziria o risco de reincidência.
"Estamos em um momento em que o ácido acetilsalicílico já está sendo utilizado não somente para prevenção secundária [ou seja, por pacientes que já tiveram algum problema cardiovascular], mas para prevenção primária também", afirmou Latta.
A cardiologista Maria Tereza Bombig, do departamento de Cardiologia Hipertensiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), atesta a segurança e a eficácia do ácido acetilsalicílico.
"Essa substância possui o que chamamos tecnicamente de grau de recomendação 1 e nível de evidência A. Só existem algumas dúvidas em relação à dosagem a ser indicada, mas há atualmente muitas opções no mercado", disse Bombig.
Riscos
A médica lembra, no entanto, que, se o paciente tiver histórico de úlcera, não deve utilizar o medicamento, pois os riscos de sangramento no estômago podem ser altos. "Quem nunca teve problemas estomacais deve manter certa cautela, mas, nesses casos, o risco de danos ao estômago é baixo se comparado ao benefício da prevenção", afirmou Bombig.
Para o médico José Antonio Atta, chefe do Ambulatório de Clínica Geral do Hospital das Clínicas (SP), a administração do ácido acetilsalicílico para prevenção secundária reduz -e muito- o risco de mortalidade. "A redução de novos eventos compensa os efeitos colaterais. Não há dúvidas quanto à indicação do medicamento nesses casos, já que ele inibe de forma muito eficiente a agregação das plaquetas".
Com relação à prevenção primária, Atta alerta para o fato que, como a população tem cada vez mais acesso a dados científicos, é preciso evitar que o paciente saia "tomando remédios sem orientação médica", já que medicamentos como estes são vendidos sem prescrição.
O risco de sangramento não é só no estômago, mas no corpo todo, segundo Atta, e, ainda que seja rara, também pode ocorrer uma lesão no fígado.
Assim, de acordo com o médico, a prevenção primária deve ser feita somente em pacientes que apresentem um ou mais sintomas além de tabagismo, hipertensão, diabetes, deslipdemia (colesterol alterado) ou histórico familiar rico para cardiopatia (o que quer dizer pai que tenha sofrido infarto com menos de 55 anos ou mãe com menos de 65 anos de idade). Isso, sempre com a indicação de um especialista. "Um fator isolado não justifica o uso, porque daí os danos dos efeitos colaterais serão superiores aos benefícios da prevenção".
Os médicos pedem atenção para as novas apresentações do ácido acetilsalicílico em cápsulas que liberam a substância somente no intestino. Apesar de evitar o contato do medicamento diretamente com o estômago, essa nova forma de administração da droga não reduz diretamente o risco de sangramento no órgão, como as indústrias farmacêuticas sugerem.
"A ação danosa do ácido acetilsalicílico não acontece porque ele entra em contato diretamente com o estômago, mas porque, depois de entrar na corrente sangüínea, ele inibe a produção do muco que protege esse órgão", disse o médico Cláudio Maierovitch, diretor-presidente da Anvisa (Associação Nacional de Vigilância Sanitária).
Ainda que novos estudos sobre a eficácia do medicamento na prevenção de alguns tipos de câncer, como o de colo e o de mama, tenham sido publicados, é cedo para atestar tais benefícios. "É importante ficar claro para o consumidor que não se trata de um modismo, ou seja, por mais seguro e eficaz que o ácido acetilsalicílico seja na prevenção de cardiopatias, cada paciente tem um histórico e somente um médico pode fazer a recomendação adequada", disse Maierovitch.


O jornalista Antonio Arruda viajou a convite da Bayer


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