|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ROSELY SAYÃO
Comunicação e expressão
Já sabemos faz algum
tempo que muitos pais
têm conflitos com a escola que seus filhos freqüentam. Durante todo o ano
letivo, pais e mães comparecem
à escola para reclamar, exigir,
propor, confrontar, acusar etc.
Desde que as escolas e os pais
decidiram colocar em prática,
cada um a seu modo, a idéia de
que as primeiras são instituições prestadoras de serviços, e
os segundos, seus clientes, a relação entre ambos ficou bem
complexa e delicada.
Faz parte das relações democráticas a expressão de conflitos e descontentamentos. Do
mesmo modo, a negociação. O
problema é que, no relacionamento entre pais e escola, não
temos tal tradição. Por isso,
muitos equívocos têm sido cometidos pelas duas partes. Vou
tratar hoje dos problemas provocados pelos pais, o que não
significa que os provocados pelas escolas tenham menor importância, é bom ressaltar.
Para que os filhos se permitam ser educados pela escola
que freqüentam, é imprescindível que seus pais confiem na
instituição, que deleguem a ela
a parte da educação que lhes
compete. Trata-se de uma
transmissão de autoridade que,
no entanto, não precisa nem
deve ser cega. Os pais podem
observar, à distância e com discrição, o que a escola faz ou deixa de fazer e dialogar com seus
representantes a respeito.
Muitos pais realizam isso a
contento, mas alguns extrapolam, tenham ou não razão no
teor de suas queixas. Neste final de ano letivo, isso tem ocorrido com freqüência.
Diversas escolas enfrentam
pais irados e raivosos que já
chegam gritando, colocando o
dedo no nariz de professores,
coordenadores e diretores, tendo chiliques e até xingando
com palavrões, em geral por
causa dos resultados que o filho
apresentou durante o ano. Ora,
os pais acompanham a vida escolar do filho e só ao final do
ano são surpreendidos?
Não vamos discutir os motivos que os pais têm, mas a forma como se expressam, já que
os maiores prejudicados são
seus próprios filhos. Algumas
crianças ficam visivelmente
embaraçadas e envergonhadas
com o comportamento dos pais
na escola. Mas o pior não é isso.
O mais prejudicial é o que as
crianças e os adolescentes
aprendem com seus pais quando eles se comportam de modo
tão pouco civilizado: que não
precisam respeitar o espaço escolar nem seus representantes
porque são clientes da escola,
que pagam pelos serviços prestados e que, portanto, podem
exigir o que quiserem e sempre
terão razão. Aliás, não é incomum que, quando funcionários
de escolas precisam conter
comportamentos deles e, portanto, contrariá-los, ouçam esse tipo de frase de alunos: "Meu
pai é quem paga seu salário".
Os pais que perdem o controle quando têm motivos para
questionar ou contestar a escola perdem junto uma grande
possibilidade: a de colaborar
para que as instituições aprimorem seu trabalho.
Os pais devem ficar insatisfeitos com a escola para que ela
progrida, mas a manifestação
dessa insatisfação precisa ser
equilibrada, racional e polida.
Pelo bem de nossa educação escolar e de todos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
Texto Anterior: Terror noturno na infância é herdado Próximo Texto: Bate-papo Índice
|