São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008
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ROSELY SAYÃO

Comunicação e expressão

Já sabemos faz algum tempo que muitos pais têm conflitos com a escola que seus filhos freqüentam. Durante todo o ano letivo, pais e mães comparecem à escola para reclamar, exigir, propor, confrontar, acusar etc.
Desde que as escolas e os pais decidiram colocar em prática, cada um a seu modo, a idéia de que as primeiras são instituições prestadoras de serviços, e os segundos, seus clientes, a relação entre ambos ficou bem complexa e delicada.
Faz parte das relações democráticas a expressão de conflitos e descontentamentos. Do mesmo modo, a negociação. O problema é que, no relacionamento entre pais e escola, não temos tal tradição. Por isso, muitos equívocos têm sido cometidos pelas duas partes. Vou tratar hoje dos problemas provocados pelos pais, o que não significa que os provocados pelas escolas tenham menor importância, é bom ressaltar.
Para que os filhos se permitam ser educados pela escola que freqüentam, é imprescindível que seus pais confiem na instituição, que deleguem a ela a parte da educação que lhes compete. Trata-se de uma transmissão de autoridade que, no entanto, não precisa nem deve ser cega. Os pais podem observar, à distância e com discrição, o que a escola faz ou deixa de fazer e dialogar com seus representantes a respeito.
Muitos pais realizam isso a contento, mas alguns extrapolam, tenham ou não razão no teor de suas queixas. Neste final de ano letivo, isso tem ocorrido com freqüência.
Diversas escolas enfrentam pais irados e raivosos que já chegam gritando, colocando o dedo no nariz de professores, coordenadores e diretores, tendo chiliques e até xingando com palavrões, em geral por causa dos resultados que o filho apresentou durante o ano. Ora, os pais acompanham a vida escolar do filho e só ao final do ano são surpreendidos? Não vamos discutir os motivos que os pais têm, mas a forma como se expressam, já que os maiores prejudicados são seus próprios filhos. Algumas crianças ficam visivelmente embaraçadas e envergonhadas com o comportamento dos pais na escola. Mas o pior não é isso.
O mais prejudicial é o que as crianças e os adolescentes aprendem com seus pais quando eles se comportam de modo tão pouco civilizado: que não precisam respeitar o espaço escolar nem seus representantes porque são clientes da escola, que pagam pelos serviços prestados e que, portanto, podem exigir o que quiserem e sempre terão razão. Aliás, não é incomum que, quando funcionários de escolas precisam conter comportamentos deles e, portanto, contrariá-los, ouçam esse tipo de frase de alunos: "Meu pai é quem paga seu salário".
Os pais que perdem o controle quando têm motivos para questionar ou contestar a escola perdem junto uma grande possibilidade: a de colaborar para que as instituições aprimorem seu trabalho.
Os pais devem ficar insatisfeitos com a escola para que ela progrida, mas a manifestação dessa insatisfação precisa ser equilibrada, racional e polida. Pelo bem de nossa educação escolar e de todos.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

roselysayao@folhasp.com.br

blogdaroselysayao.blog.uol.com.br



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