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Rosely Sayão
Jovens protegidos
Já comentei que os pais
podem deixar de se
preocupar com o malfadado vestibular porque a oferta de vagas no ensino
universitário tem sido maior do
que a demanda. Agora, a preocupação avançou para um pouco além dessa etapa: como o filho irá se comportar na faculdade a fim de conseguir concluir o curso que escolheu.
Aliás, escolher um curso tem
sido um problema para esses
jovens, já que programas de
orientação vocacional -mesmo os mais competentes- não
têm sido suficientes para que
eles escolham com convicção.
Por isso, já temos até desenvolvido a hipótese de que escolher
um curso nessa idade talvez seja precoce. Por conta dessa conjectura, muitos pais estimulam
o filho a retardar a decisão para
não exigir demais dele.
Não é tão difícil os jovens distinguirem alguns interesses para que consigam visualizar um
curso a fazer. O mais difícil, parece, é mesmo renunciar a tantas opções e possibilidades de
futuro e, assim, restringir a vida
ou a liberdade -imaginam eles.
Pois é, renunciar exige mesmo
maturidade e coragem, e os jovens têm chegado à idade quase
adulta bem imaturos e infantilizados. Não aprenderam sequer o significado da palavra liberdade, o que é absolutamente necessário para desfrutá-la.
Constatamos esse fenômeno
em várias situações, inclusive
ao ler as palavras do pai de um
dos jovens -de 19 anos- que
agrediram uma mulher no Rio
de Janeiro. Ele se referiu ao filho e aos amigos envolvidos como "crianças", lembram?
O fato é que muitos professores universitários já não sabem
mais o que fazer diante dessa
criançada, que chega ao curso
de graduação com comportamento digno de alunos de curso
fundamental. Eles precisam de
tutela (e assim a demandam)
para tudo, menos para transgredir e testar os limites da instituição, claro.
Os pais, por sua vez, ficam
perdidos quando os filhos expressam insatisfação com alguns professores ou com algumas disciplinas que são obrigados a cursar ou com a exigência
e o rigor da nova empreitada e
passam a abandonar as obrigações e a desejar mudar de curso
e fazer novo vestibular, entre
outras possibilidades.
E não vamos cair na tentação
de pensar que a juventude atual
-estamos nos referindo especialmente à classe média- é inconseqüente, irresponsável,
não tem limites, só quer desafiar etc. Mais responsável é a
atitude de reconhecer que, talvez, eles não tenham estado em
boas mãos no período de sua
formação, por mais difícil que
isso seja. Vamos nos colocar em
causa nessa questão.
Já faz tempo que estamos
comprometidos com nossa jovialidade e isso tem respingado
na maneira como educamos os
mais novos. A questão é que,
por conta dessa nossa jovialidade, não temos conjugado contenção e rigor, por exemplo,
com busca de prazer e satisfação. Queremos tudo no presente imediato. Isso resulta na desvalorização da obstinação e da
tenacidade, entre outras coisas.
Do mesmo modo, temos escolhido proteger os mais novos
de atitudes que exigem concentração e conexão com a realidade e temos elogiado o resultado
em vez do esforço. Conseguimos, sem pretender, fazer com
que os jovens acreditem que
quase tudo o que fazemos bem
é resultado mais de inspiração
e sorte do que de transpiração e
perseverança.
Muitos jovens conseguem
usar a coragem que têm potencialmente para praticar um esporte radical, para transgredir
leis que existem para protegê-los -basta lembrar o número
de mortes de jovens entre 19 e
25 anos no trânsito-, para desafiar normas da convivência
civil e para competir e tentar
ser o melhor. Entretanto, não
sabem dedicar a mesma coragem para se relacionarem com
a diferença, para ir até o final de
uma atividade iniciada por
mais maçante que seja, para
aprender o que não sabem, para controlar impulsos imediatistas e para renunciar quando
devem fazer escolhas, por
exemplo.
Pelo jeito, colocamos nossos
jovens em maus lençóis.
[...]
RENUNCIAR EXIGE MATURIDADE E CORAGEM, E OS JOVENS TÊM CHEGADO À IDADE QUASE ADULTA INFANTILIZADOS
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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