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coluna social
Caciques põem a boca no mundo
Dois dos principais líderes indígenas do
Brasil viajam pelo país e também fora dele batendo de ONG em ONG atrás de
apoio para preservar a cultura indígena e
a floresta amazônica. David Yanomami
representa os interesses dos 2.900 ianomâmis remanescentes que vivem na divisa de Roraima com o Amazonas. Paulo
Meriecureu é líder dos bororos, que vivem na aldeia Meruri (MT). Leia abaixo.
Folha - O que mais preocupa vocês?
Paulo Meriecureu - Preservar a cultura
dos bororos. Vivemos a vida do branco, a
maioria dos índios virou alcoólatra. A
igreja, a missão salesiana, foi uma das
responsáveis pela destruição da nossa
cultura. Não podemos falar nossa língua
nem dançar na aldeia. O padre colocou
coisas na cabeça das pessoas, enche todos
de culpa. Quem inventa o pecado é o próprio padre, que anda pecando também.
David Yanomami - Os mineradores levam doenças, bebida alcoólica e violência. Já morreram 40 assassinados.
Folha - Quais as suas prioridades?
Paulo - Queremos dividir o território
dos bororos e assumir a responsabilidade
pela parte sul, onde estou construindo
uma aldeia cultural. Vamos voltar a viver
em ocas, a plantar e a pescar. Três vezes
por semestre, vamos nos apresentar e receber visitantes, uma espécie de ecoturismo indígena para arrecadar dinheiro. Só
vai morar lá quem quiser ser bororo,
quem não quiser pode ficar com o padre
e tomar pinga. Começamos o projeto há
nove anos, e os padres criaram um centro
cultural cheio de computadores. Eles deixam os meninos jogarem, fazem tudo para tirar os jovens da gente.
David - Queremos formar agentes de
saúde e também temos um projeto de
educação para os ianomâmis. Para preservar a nossa cultura, precisamos aprender português e o uso de computador para redigir documentos para o presidente
e para outros países denunciando a invasão da mineração e dos fazendeiros.
Folha - Por que você recebeu o Prêmio
Global 500, da ONU?
David - Recebi esse prêmio em 92 em reconhecimento pela minha luta e liderança. Esse prêmio abriu meu caminho para
viajar para outros países e divulgar os
problemas da minha aldeia. Fui lá no
chefão, na ONU, porque os pequenininhos daqui, o governo, não queriam resolver. Falei para o secretário do Ambiente da ONU que meus parentes estavam morrendo, que a natureza estava
sendo destruída, então ele mandou o presidente Collor resolver o problema de demarcação da terra ianomâmi e tirar os
garimpeiros.
Folha - Como as pessoas podem ajudar
sua tribo?
David - Precisamos de um voluntário
para ensinar português e de dois barcos a
motor, um de 6,40 m e outro de 4 m, para
trocar nossos produtos por ferramentas.
Não existe estrada, o único acesso é por
barco, e a cidade mais próxima fica a dois
dias e meio de viagem.
Paulo - Podem nos contratar para fazer
apresentações de canto e dança. O preço
é a partir de R$ 5.000.
Contatos: tels. 0/xx/93/526-1083, (David Yanomami) e 0/xx/66/416-1172 (Paulo Meriecureu)
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