São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002 |
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Médicos criam clínica para doenças do suor
Grupo de seis cirurgiões se unem para oferecer tratamento especializado para quem sofre com o excesso de transpiração
Depois da clínica da dor e do hálito, é a vez da Clínica do Suor.
Pioneira no Brasil, ela ainda não existe fisicamente. Mas o
grupo formado por seis cirurgiões torácicos e vasculares de São
Paulo já está a postos para ajudar as pessoas que enfrentam o
constrangimento de conviver com a transpiração excessiva, ou
hiper-hidrose, problema que afeta aproximadamente 1% da população mundial.
Apesar dessa incidência, a hiper-hidrose e as opções de tratamento são pouco
conhecidas. "Muitas vezes nem os médicos sabem para onde encaminhar os pacientes", afirma o cirurgião torácico José
Ribas Milanez, que, como os demais
idealizadores da Clínica do Suor, é especializado em uma técnica cirúrgica que
corrige a produção excessiva de suor.
Essa operação, porém, não é indicada
para todos os casos. Das 1.800 pessoas
que já procuraram tratamento no Ambulatório de Hiper-hidrose do Hospital das
Clínicas de São Paulo (HC), fundado pela
mesma equipe que agora está criando a
clínica, apenas cerca de 450 foram operadas. "Com a Clínica do Suor, não vamos
deixar ninguém sem atendimento; todos
serão devidamente informados e encaminhados para outros especialistas
quando não houver indicação cirúrgica",
afirma Milanez. Para atingir esse objetivo, os médicos da clínica associaram-se a especialistas de outras áreas, como dermatologistas, endocrinologistas, psiquiatras, psicólogos e neurologistas.
Existem dois tipos de hiper-hidrose. A
primária, que é causada pelo aumento da
atividade do sistema nervoso simpático,
e a secundária, consequência de outros
problemas de saúde, como o hipertireoidismo. Daí a necessidade de o diagnóstico e o tratamento envolverem especialistas de diversas áreas. "Daqui a um ano,
esperamos ter uma central com dermatologistas e psicólogos", diz o cirurgião
vascular Nelson Wolosker, que também
faz parte da equipe da clínica.
"Só quem tem sabe o quanto é ruim.
Por isso eu acho importante divulgar que
a cirurgia existe. Para mim, foi um alívio,
mudou tudo, causou-me um bem-estar
enorme", conta Elisa Furussawa, 31, que
foi operada há um ano e meio.
A cirurgia, que é recomendada para
quem sua demais nas mãos, nos pés, nas
axilas ou no rosto ou por quem apresenta
rubor facial (sintoma que pode acompanhar um caso de hiper-hidrose), é feita
por uma dupla de cirurgiões -um torácico e um vascular. Através de uma pequena incisão no tórax, eles introduzem
uma microcâmera no organismo do paciente e retiram o gânglio do sistema nervoso autônomo responsável pela produção de suor. Feita com anestesia geral, a
cirurgia dura cerca de 40 minutos.
Marcos Kawakami, 30, foi entrevistado
dez dias após ter sido operado no HC. Ele
está satisfeito com o resultado. "Como lido com muito papel no trabalho, deixava
tudo molhado. A minha chefe gostou.
Antes, até pegar metrô era ruim, porque
as mãos escorregavam. Dificultava também a vida pessoal, as namoradas reclamavam da mão molhada. Agora está ótimo", conta ele, que ficou com as mãos
ressecadas.
Esse é um dos problemas comuns no
pós-operatório, que pode ser resolvido
facilmente com um creme hidratante.
Outro é a sudorese compensatória, ou seja, a pessoa passa a suar mais em outras
áreas do corpo, como abdômen e costas.
Foi o que aconteceu com Vanessa Ferraz,
16, que tinha o problema nas mãos e nos
pés. "Suei bastante nas costas um dia. Sabia que isso poderia acontecer, mas, mesmo assim, preferi fazer a cirurgia. Agora
já posso usar sandálias, dar a mão para as
pessoas, segurar objetos."
(PALOMA VARÓN)
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