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s.o.s. família
Filhos autoritários de pais obedientes
Rosely Sayão
Parece que, atualmente, um dos maiores
problemas dos educadores, sejam eles
pais ou professores, tem sido o de entender como praticar uma educação democrática com
seus filhos ou alunos. Na teoria, tudo parece
ser mais simples. Mas ali, no dia-a-dia em que a educação acontece, a coisa se complica, e os
adultos se atrapalham. Por quê? Porque na
verdade não é mesmo nada fácil educar levando em consideração a participação de quem
está sendo educado.
Todos conhecem o tipo de educação autoritária, em que a criança ou o adolescente têm
apenas uma coisa a fazer: cumprir o que lhe é
determinado. Nesse tipo de educação nada
mais importa, a não ser o que os pais querem
que ele faça. Se é bom ou não para ele, se ele
consegue ou não atender o que é dele exigido,
se o jeito de ele ser tem a ver com o que ele tem
que fazer e do modo como tem que fazer, nada
disso é considerado. Vale apenas uma coisa: a
convicção e a certeza dos pais, ou professores,
de que isso é bom para ele. E ainda tem gente
que sente saudades do tempo em que a educação praticada era essa! Nesse tipo de educação
o que importa é a obediência. Dos filhos.
Mas não é que, na tentativa de democratizar
essa educação, muitos pais e professores, estão
virando o jogo? Pois é, mas em tempos de
Olimpíada todo mundo sabe o que significa
virar o jogo: significa um time, uma dupla ou
um jogador passar de perdedor a vencedor. E
qual o resultado que temos observado quando
os pais viram o jogo na educação? Os filhos, ou
os alunos, passam a ditar as regras da própria
educação. Sozinhos.
Lamentavelmente, nesse caso ainda vale a
obediência. Dos pais. Nesse caso, ainda praticamos uma educação autoritária.
Um exemplo? Um jovem casal combina
com o filho, de menos de 6 anos, que sempre
que chegarem em casa juntos será o filho a entrar primeiro em casa. Talvez isso fosse apenas
pais sucumbindo a um capricho infantil ou alguma boa estratégia a que os pais chegaram,
isso não importa.
Acontece que um dia o casal saiu com o filho
e voltou um pouco mais tarde do que o costume. Vencida pelo cansaço, a criança chegou
dormindo. Mas, antes de continuar o sono
tranquilo na cama, acordou e armou a maior
confusão por não ter sido o primeiro a entrar
em casa. Adivinhem o que os pais fizeram para superar o conflito? Saíram de novo para que
a criança pudesse entrar em casa primeiro.
Que pais exemplares na obediência ao filho!
Mas educação, que é bom, nada. E muito menos educação democrática.
Para educar democraticamente não basta virar o jogo: é preciso mudar o jogo, e aí reside a
dificuldade. Não se trata de quem obedece e de
quem manda, mas sim de dirigir um processo
em que os pais têm mais experiência do que o
filho, em que os pais têm a responsabilidade, e
o filho precisa aprender a ter, em que os pais
sabem o que o filho precisa, e o filho acha que
precisa do que lhe dá prazer.
No nosso exemplo, se os pais tivessem conseguido colocar o filho na cama sem atender
aos apelos dele, sem se sentirem obrigados a
cumprirem as regras que haviam combinado
com o filho a qualquer custo, teriam cumprido seu papel educativo.
Não é tão difícil: observei uma mulher conversar com uma amiga, sentada num banco de
praça. A filha, uma garotinha vivaz de mais ou
menos 4 anos, brincava ao lado com uma amiguinha. De repente decidiu que queria tomar
refrigerante e interpelou a mãe de imediato,
interrompendo a conversa. A reação da mãe?
"Espere a sua vez para falar", disse à filha.
E, assim que terminou a frase com a amiga,
perguntou à filha o que ela queria. Que belo
exemplo de educação democrática essa mãe
deu!
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Sexo É Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br
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