São Paulo, quinta-feira, 05 de outubro de 2000
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Para os pesquisadores, o que é descartado ajuda a compreender a cultura de um povo
Lixo ganha espaço em pesquisas acadêmicas

KATHERINE E. FINKELSTEIN
DO "THE NEW YORK TIMES"

Os acadêmicos estão descobrindo que o lixo traz informações vitais sobre a cultura do consumidor. Há muito que aquilo que as pessoas consomem é objeto de estudo em universidades e jornais acadêmicos. Para alguns estudiosos, contudo, aquilo que as pessoas descartam pode ser igualmente importante.
O interesse acadêmico pelo refugo foi despertado há uma década por um evento da vida real: uma barca transportadora de lixo chamada Mobro 4000 navegou pelas águas do mundo com mais de três toneladas de lixo de Long Island (EUA) sem ter onde colocá-lo.
Enquanto a reação da população em geral foi imaginar depósitos de lixo transbordando e a falta de espaço para aterros, os pesquisadores concentraram sua atenção nos efeitos sociais e políticos dos detritos em uma cultura de abundância.
Em "Dust: A History of the Small and the Invisible" (Pó: Uma História do Pequeno e Invisível), o norte-americano Joseph Amato lamenta a ação dos limpadores líquidos de vidro e lustra-móveis, que relegaram o pó aos cantos de nossas consciências. O estudo nos lembra que, de acordo com o Livro do Gênese, da Bíblia, somos todos feitos do pó e destinados a voltar a ele. Portanto devemos apreciar o material microscópico que foi brutalmente reprimido em uma sociedade higiênica.
Para Susan Strasser, professora de história da Universidade de Delaware (EUA) e autora do recém-lançado livro "Waste and Want: A Social History of Trash" (Refugo e Escassez: Uma História Social do Lixo), a riqueza do lixo como objeto de investigação acadêmica reside em como as pessoas escolhem designá-lo. "Eu defino meu tópico, e meu interesse, não só como um amontoado de porcarias, mas como o processo de seleção que ocorre nos espaços marginais entre o público e o privado. Dispomos as coisas marginais, das quais não estamos seguros, em espaços marginais da casa, como no porão ou no sótão." Nessa atividade, as pessoas se revelam. Ou, como talvez dissesse um filósofo alemão, somos aquilo que descartamos.


Tradução: Deborah Weinberg



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