|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para os pesquisadores, o que é descartado ajuda a compreender a cultura de um povo
Lixo ganha espaço em pesquisas acadêmicas
KATHERINE E. FINKELSTEIN
DO "THE NEW YORK TIMES"
Os acadêmicos estão descobrindo que
o lixo traz informações vitais sobre a
cultura do consumidor. Há muito que
aquilo que as pessoas consomem é objeto
de estudo em universidades e jornais acadêmicos. Para alguns estudiosos, contudo, aquilo que as pessoas descartam pode ser
igualmente importante.
O interesse acadêmico pelo refugo foi
despertado há uma década por um evento da vida real: uma barca transportadora
de lixo chamada Mobro 4000 navegou
pelas águas do mundo com mais de três
toneladas de lixo de Long Island (EUA)
sem ter onde colocá-lo.
Enquanto a reação da população em
geral foi imaginar depósitos de lixo transbordando e a falta de espaço para aterros,
os pesquisadores concentraram sua atenção nos efeitos sociais e políticos dos detritos em uma cultura de abundância.
Em "Dust: A History of the Small and
the Invisible" (Pó: Uma História do Pequeno e Invisível), o norte-americano Joseph Amato lamenta a ação dos limpadores líquidos de vidro e lustra-móveis, que
relegaram o pó aos cantos de nossas
consciências. O estudo nos lembra que,
de acordo com o Livro do Gênese, da Bíblia, somos todos feitos do pó e destinados a voltar a ele. Portanto devemos
apreciar o material microscópico que foi
brutalmente reprimido em uma sociedade higiênica.
Para Susan Strasser, professora de história da Universidade de Delaware
(EUA) e autora do recém-lançado livro
"Waste and Want: A Social History of
Trash" (Refugo e Escassez: Uma História
Social do Lixo), a riqueza do lixo como
objeto de investigação acadêmica reside
em como as pessoas escolhem designá-lo. "Eu defino meu tópico, e meu interesse, não só como um amontoado de porcarias, mas como o processo de seleção
que ocorre nos espaços marginais entre o
público e o privado. Dispomos as coisas
marginais, das quais não estamos seguros, em espaços marginais da casa, como
no porão ou no sótão." Nessa atividade,
as pessoas se revelam. Ou, como talvez
dissesse um filósofo alemão, somos aquilo que descartamos.
Tradução: Deborah Weinberg
Texto Anterior: Palestra Próximo Texto: Poucas e boas: Babaçu para tratamento de lesões gástricas Índice
|