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Nutriente multiúso
Além do conhecido papel para a saúde dos ossos, a vitamina D é importante para prevenir diabetes, câncer, hipertensão e infecções; saiba como garantir o aporte correto
Leonardo Wen/Folha Imagem
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A empresária Vera Folli, 53, trocou os remédios contra esclerose múltipla por vitamina D e não manifesta nenhum sintoma da doença.
FERNANDA BASSETTE
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Não passa uma semana sem que surja
uma nova pesquisa
associando a falta de
vitamina D no organismo a alguma doença. Os problemas
vão além da saúde óssea prejudicada -relação já estabelecida, pois o nutriente contribui
para a fixação do cálcio nos ossos. Hoje, estudos mostram
que a deficiência pode levar a
hipertensão, diabetes, infecções e alguns tipos de câncer.
Há até pouco tempo, os especialistas acreditavam que a discussão sobre a falta da vitamina
era desnecessária no Brasil, já
que um país tropical recebe luz
solar suficiente -a maior parte
da vitamina D é sintetizada
com a ajuda dos raios solares.
No entanto, pesquisas recentes já apontam problemas entre os brasileiros. Um estudo
realizado com 603 funcionários do Hospital Universitário
da USP (Universidade de São
Paulo) mostrou deficiências da
vitamina tanto no fim do inverno quanto no término do verão.
"Ninguém esperava esses resultados para São Paulo. Ainda
faltam estudos em outras partes do país, mas talvez seja possível extrapolar os resultados
para toda a região que vai de
Belo Horizonte ao Sul, principalmente nas grandes cidades",
diz Rosa Moysés, nefrologista
do Hospital das Clínicas de São
Paulo e autora da pesquisa.
Um outro trabalho, feito por
pesquisadores da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), com 177 idosos que vivem
em instituições e outros 243
idosos que moram em casa. Entre os primeiros, 41% tinham
níveis muito baixos de vitamina D e, entre os outros, 30% .
"Os números são assustadores. Mesmo trabalhos com mulheres no Recife encontraram
grande deficiência, porque elas
também se escondem do sol. É
um problema das grandes cidades", afirma a endocrinologista
Marise Castro, chefe do Setor
de Doenças Osteometabólicas
da universidade.
O deficit também existe entre adolescentes. A nutricionista Bárbara Peters, pesquisadora da Unifesp, detectou o problema em uma pesquisa feita
com 136 jovens de Indaiatuba
(interior de São Paulo) -62%
deles apresentavam índice insuficiente de vitamina D.
"Não esperava esse resultado, pois são adolescentes saudáveis que vivem em uma cidade bastante ensolarada."
Trabalhos feitos em animais
mostraram que a vitamina D
tem um papel inibidor da renina, hormônio que contribui para elevar a pressão arterial.
Um trabalho finlandês divulgado na semana passada
no "American Journal of
Epidemiology" confirma o
alerta. Por 27 anos, foram
monitoradas 5.000 pessoas.
Houve relação entre baixos
índices da vitamina e maior
risco de derrame e de outras
doenças cardiovasculares.
"Pessoas com níveis adequados de vitamina D têm
menos risco de calcificação
das artérias, pois a vitamina
possui uma ação anti-inflamatória", afirma Marcelo de
Medeiros Pinheiro, reumatologista da Unifesp.
O nutriente também estimula a produção de insulina,
melhorando o controle da
glicose, e diminui a resistência ao hormônio -o que
ocorre em quem tem diabetes tipo 2. Sua falta pode favorecer o desenvolvimento
da doença.
Tumores de cólon, de
próstata e de mama também
já foram associados à deficiência de vitamina D em
pesquisas. A explicação pode
estar no papel da vitamina no
ciclo de proliferação celular
-a substância ajuda a equilibrar a divisão das células.
Quem tem deficiência da
vitamina é também mais vulnerável a infecções, pois o
nutriente atua na produção
de proteínas antibacterianas.
"Uma das mais estudadas é
a tuberculose. Um estudo em
laboratório mostrou o papel
da vitamina D na doença",
acrescenta Moysés.
Combate
A explicação para as baixas
taxas da vitamina no sangue
são a pouca exposição ao sol
-já que as pessoas passam
boa parte do tempo em escritórios- e o baixo consumo
de alimentos com o nutriente em quantidade razoável.
Com relação ao sol, ainda
existe uma grande polêmica:
o uso de filtro solar. Para alguns especialistas, o protetor
dificulta a absorção dos raios
UVB, responsáveis por atuar
na sintetização da vitamina.
Por isso, eles sugerem uma
exposição de pernas e braços
descobertos por cerca de 15
minutos diários sem filtro.
"O produto certamente diminui a produção da vitamina D. Mas hábitos saudáveis
[como exercícios ao ar livre]
também podem ajudar a diminuir a hipovitaminose D, pois
aumentam a exposição solar,
mesmo naqueles que irão usar
o protetor", diz Moysés.
No entanto, Marcus Maia,
dermatologista e oncologista
da Santa Casa de São Paulo, discorda e diz que não existe fotoproteção tão intensa capaz de
impedir a síntese da vitamina.
Ele diz que sete minutos de exposição solar, três vezes por semana, são o suficiente.
Maia analisou os níveis de vitamina D no sangue de 50 pessoas: 25 com melanoma (tipo
mais agressivo de câncer de pele) e que usavam protetor solar
diariamente nas doses recomendadas e 25 pessoas que não
tinham a doença.
Ele constatou que nenhum
paciente tinha níveis insuficientes da vitamina. "Nem
quem precisa usa o filtro solar
corretamente. Proteção solar
absoluta, capaz de bloquear a
síntese da vitamina D, é impossível. Por isso, outras possíveis
causas do deficit da vitamina
teriam de ser estudadas", diz.
O consumo de alimentos que
contêm o nutriente é indicado,
mas não resolve o problema. Só
de 10% a 20% do valor diário
recomendado podem ser obtido por meio dos alimentos.
Segundo Marcelo Pinheiro,
pesquisa feita com 2.400 pessoas constatou que o brasileiro
consome cinco vezes menos vitamina D do que o recomendado internacionalmente -que é
de dez a 15 microgramas.
Por esse motivos, especialistas acreditam que seja necessária uma política de fortificação
de alimentos e de suplementos
da vitamina. No Brasil, o nutriente só é encontrado em versão manipulada.
Roseli Sarni, presidente do
Departamento de Nutrição
da Sociedade Brasileira de
Pediatria, diz que crianças
de até 18 meses devem receber suplementação, pois o
que ingerem com o leite materno não é suficiente.
Sarni afirma que a suplementação de vitamina independe do fato de a criança
tomar sol. Nessa faixa etária,
a recomendação semanal é
de meia hora se o bebê estiver só de fraldas ou de duas
horas se estiver com rosto,
mãos e pés expostos ao sol.
Colaborou CLÁUDIA COLLUCCI, da
Reportagem Local
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