São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008
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infância

Do tempo da vovó

Especialistas confirmam que técnica antiga de enrolar bebê no cueiro ajuda a acalmá-lo; método deve ser usado com moderação e em crianças de até três meses

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

T oda mãe de primeira viagem já deve ter recebido da própria mãe, da sogra ou de qualquer outra mulher mais experiente na arte da maternidade uma dica certeira para aliviar a cólica do bebê e fazê-lo parar de chorar. Pois uma técnica muito popular há algumas décadas e esquecida pelas mães mais jovens pode, sim, ser eficaz: envolver o bebê no cueiro.
A técnica consiste em enrolar o bebê em uma mantinha, formando uma trouxinha que o mantenha imobilizado. "Eu nunca fiz, mas minha mãe e minha avó, sim. E queriam que eu fizesse também. Diziam que era mais fácil carregar o bebê com o cueiro. Até arrematavam a mantinha com fita crepe para não soltar", lembra a assistente administrativa Gisele de Moraes, 31, mãe de Lucas, 7, e de Letícia, de 25 dias.
Nos Estados Unidos, o pediatra Harvey Karp ganhou popularidade ao divulgar um método para acalmar bebês que resgata a técnica do cueiro. Em seu livro, publicado no Brasil com o título "O Bebê Mais Feliz do Pedaço" (Planeta), atualmente esgotado, ele defende que, para fazer o bebê parar de chorar, são precisos cinco passos (veja quadro abaixo), dos quais o primeiro é enrolá-lo em uma mantinha -o cueiro justinho faria com que o bebê se lembrasse da vida intra-uterina e se sentisse seguro e aquecido.
De acordo com o obstetra Luiz Fernando Leite, das maternidades Pro Matre e Santa Joana, o cueiro ajuda a diminuir as cólicas porque aquece o corpo do bebê, incluindo o intestino. Além disso, o calor remete o bebê ao ambiente do útero, no qual a temperatura costuma ser de aproximadamente 35ºC. "Imobilizada e quentinha, a criança relaxa, gasta menos energia, seu metabolismo diminui e ela fica calma", afirma Leite.
Em bebês prematuros, essa preocupação com a temperatura é ainda mais importante, já que, neles, o centro termorregulador ainda não é maduro o suficiente para manter a temperatura adequada, levando-os a ficar com o corpo mais frio. Algumas vezes, eles ficam "empacotados" mesmo dentro da incubadora. Quando atingem de 1,8 kg a 2 kg, porém, já são capazes de manter a temperatura corporal.
Segundo Fernanda Matilde Gaspar dos Santos, enfermeira encarregada da UTI neonatal da maternidade São Luís, a técnica costuma funcionar em bebês prematuros, mas nem todas as crianças reagem bem à idéia de ficar presas. "Quando o bebê está irritado, é preciso aconchegá-lo para que ele se acalme. Para alguns, ficar numa trouxinha ajuda, sim. Outros, porém, ficam ainda mais irritados. Não gostam de ser enrolados."
Ela diz que ensina aos pais a forma certa de enrolar os bebês (veja passo a passo nesta página), mas não recomenda que eles usem o cueiro em casa. "A criança tem de ficar livre para poder se movimentar", diz. Mesmo no hospital, segundo Santos, a técnica é usada em situações específicas. "Usamos só nos bebês que choram muito. Caso contrário, basta deixá-lo deitado com um lençol e uma coberta."
E, assim que o bebê se acalmar ou dormir, diz ela, é bom tirar o cueiro para que ele fique mais à vontade.

Cuidados
O cueiro não compromete o desenvolvimento motor da criança, mas é preciso tomar alguns cuidados. Um deles é manter a dobra do cueiro na altura do pescoço da criança -caso a dobra fique no alto da cabeça, por exemplo, o bebê pode "afundar" no cueiro e ter dificuldade para respirar. Outra recomendação é ficar atento à criança enquanto ela está enrolada. A fotógrafa Karime Xavier, autora das imagens dessa reportagem, conta que uma história clássica em sua família é a do dia em que ela foi parar no hospital devido ao cueiro -com quatro meses de idade, ela se virou de bruços e, devido à manta que a imobilizava, não conseguiu levantar a cabeça para respirar.
"A idade é um fator importante", comenta Santos, da maternidade São Luís. "Com quatro meses, o bebê é muito ativo, já começa a se movimentar mais. Se estiver embrulhado e virar de bruços, não consegue desvirar ou levantar a cabeça. O cueiro pode ser utilizado para acalmar ou aquecer o bebê, nesse tipo de situação. No dia-a-dia, o melhor é deixar a criança à vontade", afirma.


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