São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2010
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OUTRAS IDEIAS

FRANCISCO DAUDT fdaudt2@gmail.com

Eduardo e Mônica


Não se trata de anatomia: falo de zonas erógenas, que são áreas mentais de produção de amor


MANUEL PERGUNTA ao amigo: "Ó Joaquim, tua mulher transa contigo, é pur amore, ou é pur interesse?" Joaquim responde: "Deve ser pur amore, pois que ela não mostra o menor interesse".
Quando amigos souberam que eu ia escrever sobre zonas erógenas, me disseram que o tema era batido. Eles têm razão. "Só não contavam com a minha astúcia", para citar o Chapolin da TV, por quem tenho admiração.
Quero falar sobre o que acontece na vida dos casais, principalmente depois dos filhos. Sobretudo uma transformação que se passa na mulher, origem frequente das depressões pós-parto. É comum que, ao lhes nascer o primeiro neném, caia-lhes na cabeça uma supraidentidade que as deixa tontas: "Eu não sou mais a Mônica, eu sou uma Mãe".
A Mônica era uma garota sapeca, gostava do esporte, tanto que ela e o Eduardo viveram uma paixão do tipo "bicho pega", até que se casaram e engravidaram.
Três meses de enjoo. Ela não queria nem olhar para o Eduardo, quanto mais para o tal "bicho". Ainda mais que o obstetra havia dito para maneirarem -pois era um tempo delicado-, jogando o casal mais para segundo plano.
É aí que entram as tais zonas erógenas. Quem esperou as batidas áreas anatômicas ficará aliviado. No filme "Sex Education", os filhos de Ed Harris, pré-adolescentes, contratam uma prostituta para aprender truques de enlouquecer uma mulher.
O filme tem um final feliz, com o pai se encantando pela moça, e os filhos questionando: "Existe um ponto na mulher que, se tocado, ela é levada à loucura?". E Melanie Griffith responde: "Sim, existe". E aponta o coração.
Eros é uma das formas de amor que os gregos descreveram, tomando o nome de um deus ("Graças a ele, os homens conheciam as alegrias da amizade, as doçuras da ternura, os prazeres e as dores que acompanham o amor verdadeiro", "Nova Mitologia Clássica", Mario Meunier/ 1976). Portanto, as zonas erógenas -geradoras de Eros- são áreas mentais de produção de amor.
Quem salvará Mônica do peso da maternidade? Quem lhe ensinará que a moleca não morreu? Quem dirá que existe transa com notas mais ternas, talvez mais acolhedoras para a fase de fragilidade? Que ela não virou intocável com a nova condição (que não anula as anteriores)?
Que escola ensinará ao obstetra que ele não é o proprietário da "gestante", que não deve olhar para o marido como um intruso e que Eduardo é mais importante do que ele? E que, se houver realmente razão médica que impeça a transa, existe sempre o chamego, e o chamego dá prazer ao coração.

FRANCISCO DAUDT, psicanalista e médico, é autor de "Onde Foi Que Eu Acertei?", entre outros livros



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