São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2010
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CORRIDA

RODOLFO LUCENA rodolfo.lucena@grupofolha.com.br

Jogador de futebol não corre nada


Apesar de todos aqueles músculos, boleiros só são bons em dar piques de velocidade


A COPA DO MUNDO vem dando um banho de tecnologia, entrando em nossas casas com cenas fantásticas, cobertura de lances em detalhes até aqui inimagináveis. Para o fã de futebol, porém, riqueza ainda maior é a prodigalidade de estatísticas que a Fifa oferece.
Uma enxurrada de números que vão, de maneira quase instantânea, contando a história da partida e dando munição para horas de debates em mesa de bar e muitos centímetros de colunas, como esta que você lê.
Uma das curiosidades da pororoca numerológica que a Fifa propicia é a distância percorrida pelos times no gramado, com informações individualizadas e cálculo de média da equipe. Traz também a velocidade máxima média da equipe e a máxima atingida pelos atletas em campo.
Os cálculos são feitos em tempo real, por computador, baseados nas imagens do jogo, e assombram pelo grau de precisão. Na última partida da fase de grupos, por exemplo, o Brasil correu um total de 102.222 metros. Portugal gastou mais a sola, percorrendo 108.585 metros.
O que pode não significar coisa nenhuma pois, como se sabe, futebol é bola na rede. Revela, porém, que, apesar de todos aqueles músculos exibidos na TV, jogador de futebol não corre nada.
Naquele jogo modorrento, os brasileiros correram em média 7.302 m ao longo dos 90 minutos, que é tempo mais do que suficiente para corredores lentos terminarem a São Silvestre, de 15 km.
Em contrapartida, os boleiros dão piques em alta velocidade. Michel Bastos chegou a dar piques em que atingiu o equivalente a 29 km/h. Se conseguisse manter esse ritmo ao longo de duas horas, deixaria longe o etíope Haile Gebrselassie, que correu a uma velocidade média de 20,4 km/h quando bateu o recorde mundial da maratona, em Berlim, em 2008.
O problema, claro, é sustentar o ritmo, qualquer que seja. Os jogadores treinam para a explosão, para a mudança de passada, para o pique vertical e para rápidos movimentos laterais.
Nós outros treinamos para atingir o nirvana, atingir um ritmo legal e ficar nele, embalando o corpo e deixando voar os pensamentos. Talvez isso ajude a explicar por que há tanto estresse entre os que correm em campo, enquanto os amadores usamos a corrida exatamente para enfrentar as tensões das vida.

RODOLFO LUCENA, 53, é editor do caderno Tec e do blog +Corrida (maiscorrida.folha.com.br), ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (ed. Record) e de "+Corrida" (Publifolha)



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