|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Médicos prescrevem a técnica chinesa para seus pacientes; alguns oferecem o serviço em seu próprio consultório
Acupuntura auxilia tratamento tradicional
Reprodução
|
Desenho mostra os pontos e meridianos
usados na acupuntura
|
ANA PAULA DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A acupuntura anda de caso com a medicina alopática faz tempo. Agora, parece estar oficializando o "enlace". Na semana passada, um encontro denominado 1º Congresso Mundial de Integração da Acupuntura Médica reuniu acupunturistas e médicos favoráveis à técnica vindos da Alemanha, China, Inglaterra, entre outros países, e também brasileiros, num total de 1.600 especialistas. O objetivo: ampliar o uso da técnica milenar em especialidades da medicina tradicional, como
reprodução humana e medicina esportiva.
O acupunturista, diferentemente do alopata,
não se dedica a especialidades. Ele deve estar
apto a tratar de dores reumáticas a impotência. "Isso porque a medicina chinesa não vê a
doença, mas o doente", explica a ginecologista
e acupunturista Lilian Fumie Takeda.
Vice-presidente do hospital Albert Einstein,
o reumatologista José Goldenberg acredita no
tratamento médico multidisciplinar e indica a
acupuntura. Até dispõe do serviço na própria
clínica para o tratamento de dores reumáticas.
"A acupuntura tem essa característica de ver o
ser humano como um todo."
De manhã, endoscopia; à tarde, acupuntura.
Essa é a rotina da clínica da médica especializada em endoscopia Mylene Mayumi Nagato,
que se vale dos benefícios do uso associado
das duas técnicas. "Contra dores estomacais,
aconselho o paciente, além de medicação alopática, a fazer sessões de acupuntura para aliviar a dor."
Aliviando a dor, o paciente não precisará tomar tantos remédios, o que reduz o custo com
medicamentos e diminui os efeitos colaterais
provocados por eles, diz Hong Jin Pai, chefe da
equipe de acupuntura do Centro de Dor do
Hospital das Clínicas (HC) e presidente da Sociedade Médica de Acupuntura de São Paulo.
Sinal da aliança bem-sucedida da acupuntura com o tratamento convencional: "Em apenas três anos de utilização da acupuntura no
Hospital do Servidor Público, 25 acupunturistas realizaram 35 mil procedimentos e ainda
existe fila de espera", diz Ruy Tanigawa, vice-presidente da Associação Médica Brasileira de
Acupuntura (Amba) e chefe do departamento
de acupuntura do hospital. Além disso, é no
Brasil que fica o primeiro pronto-socorro de
acupuntura do Ocidente, serviço oferecido pelo Hospital São Paulo.
Desde 1998, a acupuntura integra o Conselho de Especialidades da Associação Médica
Brasileira. "Ou seja, para ser acupunturista, é
preciso ser médico", diz Hong. "Entre os perigos da má aplicação, o pior é deixar de fazer o
diagnóstico", alerta Tanigawa (leia mais na
página 8).
O uso da técnica tem suas limitações: "Casos
como intervenção cirúrgica e tratamento de
doenças infecto-contagiosas e mentais ainda
devem ser lidados pela medicina ocidental. A
acupuntura, nesses casos, atua como coadjuvante para amenizar os sintomas colaterais",
explica Tanigawa.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) relacionou doenças, sintomas e condições em
que a acupuntura teve sua eficácia comprovada (leia texto na página 8).
Comprovação científica, aliás, é o que é essencial antes de a acupuntura ser indicada aos
pacientes, segundo o neurologista especializado em enxaqueca e dor de cabeça Abouch
Krymchantowski. "Existem evidências de que
a acupuntura é útil como coadjuvante no tratamento medicamentoso da enxaqueca e outras dores de cabeça. Pode até tirar a dor, mas
não curar", diz, orientando quem tem dores
constantes que procure um especialista.
Nas páginas 7 e 8, há uma relação de problemas, que vão de asma a impotência sexual, para os quais profissionais adeptos da acupuntura defendem o uso das agulhas. Antes, leia
aqui as ressalvas de especialistas alopatas. Em
geral, eles alertam que a técnica deve ser usada
como tratamento complementar ao tradicional. "Jamais uma cirurgia deverá ser suprimida pela acupuntura", diz Paulo Zogaib, especializado em medicina esportiva.
"O homem que tiver distúrbio de ereção deve procurar um urologista. Aconselho a acupuntura para diminuir o estresse, assim como
oriento o paciente a procurar outros meios
que o deixem menos estressado", diz o coordenador do Centro de Reprodução do HC,
Jorge Hallak.
O estresse, aliás, é um das causas de vários
problemas estomacais, diz a gastroenterologista do HC Dorina Barbieri. "Se a acupuntura
ajudar a relaxar, bom para o paciente, porém
não vejo frequentemente as pessoas usarem a
técnica para tratar o estômago." Já sobre o
efeito anestésico das agulhas, Wilson Nogueira Soares, anestesiologista do Einstein, diz que uma cirurgia feita com anestesia provocada pela acupuntura é inviável. "O paciente só não sente dor, mas
ainda tem mobilidade, o que é contra-indicado em muitas cirurgias."
"Era cético até o dia que tratei uma
dor terrível no pé, que não passava de
maneira nenhuma. Um amigo me
indicou um acupunturista. Fui sabendo que não adiantaria. Quando
a sessão terminou e me vi livre da
dor de meses, percebi que não se
tratava de charlatanismo, porém
de uma ciência séria", conta o ginecologista Eliezer Berenstein,
que indica a técnica como tratamento complementar da tensão pré-menstrual. "Descobri que a medicina é uma só.
Existem técnicas que caem no ostracismo e
outras que ultrapassam o tempo. A acupuntura é uma delas. Não dá mais para ser chamada
de método alternativo, mas de tratamento
complementar à medicina alopática."
Para o cirurgião vascular da Santa Casa (SP)
Jorge Guedes Neto, o médico deve estar aberto
a todo tipo de tratamento cientificamente
comprovado. "Sei que, em casos de derrame, a
acupuntura auxilia no tratamento das sequelas. A técnica era vista como última saída, hoje
completa a medicina ocidental."
Ainda resistente à idéia, o especialista em reprodução humana Selmo Geber, porém, admite ter ficado intrigado quando uma paciente sua em tratamento de infertilidade comunicou que, paralelamente à terapia alopática, faria acupuntura. Ele disse que seria perda de
tempo, mas ela insistiu. "E não é que engravidou!", admira-se, atribuindo o progresso à
coincidência. "Mas, por via das dúvidas, vou
ler mais a respeito, pois acredito que as constatações científicas são muito incipientes."
"Descobri que a medicina é uma só. Existem técnicas que caem no
ostracismo e outras que ultrapassam o tempo. A acupuntura é uma delas.
Não dá mais para ser chamada de método alternativo, mas de tratamento complementar à medicina alopática"
Eliezer Berenstein, ginecologista
|
Texto Anterior: Capa 06.11 Próximo Texto: A ação das agulhas, segundo os médicos adeptos Índice
|