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ROSELY SAYÃO
Educar para a diversidade
Discursos politicamente corretos: a escola tem se especializado nessa questão.
Vamos tratar da expressão
"educação para a cidadania"
para mostrar o quanto ela é
usada apenas como ferramenta
de marketing, e não como experiência educativa de fato.
Afinal, o que cada escola que
usa tal conceito em seu projeto
político-pedagógico pratica
nesse sentido?
Nessa altura do ano, em que a
maioria dos pais toma decisões
quanto à matrícula dos filhos,
um número significativo deles
está à beira do desespero. Seus
filhos, pelos mais diversos motivos, são considerados portadores de necessidades especiais, e a maioria das escolas
não quer recebê-los.
As justificativas são variadas:
ora a escola não está preparada
para receber tais alunos, ora
suas dependências não são
apropriadas, ora a idade do aluno é muito discrepante dos colegas da classe que teria de freqüentar etc. O fato é: a matrícula deles não está garantida nas
escolas particulares.
É interessante lembrar que a
educação escolar não tem como objetivo apenas o desenvolvimento de habilidades pelo
uso do conhecimento, o contato com a cultura e a arte. É principalmente uma prática que leva à integração social. É na escola que o aluno aprende a conviver em sociedade: ocupa, pela
primeira vez, um papel social
fora do núcleo familiar, se integra a um grupo de pessoas diferentes que compartilham o
mesmo objetivo, aprende a ser
solidário, colaborativo e respeitoso nas relações. E tem mais:
toda criança pode aprender.
Pelo jeito, vida em sociedade
é um direito de quase todos, e
não de todos. Estão aptos a freqüentar uma escola particular
apenas os alunos que apresentam características próximas às
das crianças que já freqüentam
ou tradicionalmente freqüentaram a escola regular. Isso é
"educar para a cidadania"?
A prática escolar tem sido a
de adaptar os alunos ao seu
funcionamento e ensino. Tal
equação precisa ser invertida
para que a escola cumpra seu
papel social. Rendimento escolar abaixo do potencial do aluno, problemas na convivência
com as normas da escola e com
os pares, dificuldade para superar a angústia que aprender
suscita não devem ser tratados
como problemas pessoais de
determinados alunos. São problemas da escola, sobre os quais
ela precisa refletir para reconsiderar sua prática usual.
Quais as nossas responsabilidades diante dessa questão?
Temos ou não compromisso
com as gerações mais novas e
com o futuro, com a convivência com a diversidade e a busca
de relações sociais mais democráticas? Como muitas escolas
particulares, temos esse discurso, mas nossa prática se assemelha à das escolas que não
aceitam certas crianças.
Por um futuro melhor para
nossos filhos, precisamos todos
nos envolver diretamente com
essa questão. A não ser que estejamos satisfeitos com o fato
de que nossos filhos vivem em
uma sociedade que segrega e
exclui. Estamos?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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