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ANNA VERONICA MAUTNER
Senta e estuda
Costuma-se dizer, sem
parar para pensar, aos
estudantes: senta e
estuda! Isso pressupõe que, para adquirir novos
conhecimentos, devemos estar
mais ou menos imóveis, apenas
mãos e braços livres para anotar. Mas será que essa ordem é
suficiente para uma aprendizagem eficiente?
É muito difícil definir exatamente o que é estudar. O processo de aprendizagem -estudar- pode estar mais voltado
para a fixação de um conhecimento do que para a descoberta, a invenção e mesmo a compreensão. No início do processo, movimentar-se não atrapalharia.
Muitas vezes, para uma boa
compreensão de um conhecimento, o diálogo vem bem.
Mesmo sentados, podemos ter
mais alguém participando do
processo. É o que ocorre quando se diz "vou estudar com fulano". Estudar junto não é decorar -essa tarefa pode se fazer
sozinho. Inclusive, muitos atores decoram -mas não estudam- seus textos andando.
Já vai longe o tempo em que
os professores ditavam "o ponto" e a lição de casa era apenas
fixar o conteúdo do "ponto". Aí
sim cabia o "senta e estuda".
Para orientarmos o estudo
dos jovens, precisamos atentar
para a complexidade embutida
nessa ação. Estudar se compõe
de múltiplas aptidões mentais:
perceber, ler, investigar, entender, relacionar, comparar, lembrar o que já se sabe, procurar
novas informações, trocar
ideias, verificar se esse é o caminho certo para chegar a uma
conclusão válida.
Depois de tudo isso, chega a
hora de fixar o conhecimento
pela releitura, eventual anotação de fontes de referência e catalogação mental. Aí sim "senta
e estuda" faz sentido.
Existe um momento da escolaridade -o cursinho- em que
a aula expositiva praticamente
volta. Afinal, é a revisão do que
já deveria ter sido ensinado e
aprendido. Aí o professor é um
lembrador. Deveria ser o despertador da memória acumulada nos anos anteriores passados na escola.
Escrevo agora pensando em
pais e mestres. Um bom professor é aquele capaz de antecipar
as etapas do processo de aquisição de conhecimento. Cabe a
ele, que conhece o conteúdo,
decupá-lo nas várias etapas:
mandar procurar na biblioteca,
sugerir pegar um caderno do
semestre passado e por aí afora,
indicando como complementar com o necessário para que o
aluno esteja pronto para encarar a etapa da fixação do conhecimento. Quando se diz "senta
e estuda", está se pensando só
no final.
Cabe aos pais estarem atentos ao fato de que estudar não é
só prestar atenção, imóvel
diante da escrivaninha. Muitas
vezes pode ser necessário telefonar para o colega que tem um
certo livro ou enciclopédia ou ir
a uma biblioteca e até, modernamente, recorrer à internet.
Muitas matérias demandam
laboratório, experiências e observação, mesmo as do curso
fundamental.
Nas etapas mais adiantadas
da escolaridade, cada vez menos sentar para estudar é suficiente. É por isso que o trabalho
em grupo e os seminários aparecem com frequência lá pelo
final do nível médio.
Tudo isso não elimina a aula,
o professor falando lá na frente
para todos ao mesmo tempo.
Cabe a ele indicar o novo e
orientar para a forma de sua
captação.
ANNA VERONICA MAUTNER , psicanalista da
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São
Paulo, é autora de "Cotidiano nas Entrelinhas"
(ed. Ágora)
amautner@uol.com.br
A colunista Rosely Sayão volta a escrever em 21/1
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