São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2011 |
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NEUROCIÊNCIA SUZANA HERCULANO-HOUZEL suzanahh@gmail.com Exaustão cerebral
Eu Estou habituada a falar durante 90 minutos sem grandes desgastes, às vezes por até três ou quatro horas, sobretudo se lembrar de levar uma garrafinha de água para bebericar o tempo todo. Por que, então, ontem saí tão exausta de uma hora de palestra seguida de duas horas de entrevista por uma banca de cinco pessoas? A neurociência explica: esgotamento neuronal, por causa do esforço para manter por duas horas a atenção aguçada para interpretar as sutilezas das perguntas da banca, escolher cuidadosamente as palavras das minhas respostas, monitorar reações e pensar no que mais eu gostaria de dizer. ufa! A fadiga neuronal é resultado da própria atividade dos neurônios, que leva à produção de adenosina. Aquela mesma adenosina que, ao se acumular, leva à sonolência. Antes de chegar naquele ponto, contudo, ela começa por se acumular ao redor dos neurônios mais ativos. A adenosina acumulada é ao mesmo tempo um indício do começo do esgotamento energético dos neurônios e um sinal que os impede de sustentar o mesmo nível de atividade de antes. Ela age diretamente sobre os neurônios como um inibidor, o que evita que eles fiquem ativos demais e entrem em colapso energético-como um sistema autolimitante de proteção. Por essa mesma razão, a fadiga é específica ao sistema cerebral usado de maneira sustentada. Passe meia hora lendo, e seus neurônios envolvidos na leitura começarão a demonstrar cansaço - mas outros, responsáveis por tocar piano, continuarão perfeitamente capazes. Acho que isso também explica porque mesmo o mais belo dos museus nos deixa exaustos depois de uma ou duas horas apreciando arte. E quanto maior o nível de atenção sustentada,mais rapidamente a fadiga chega aos neurônios exercitados. Por isso não é recomendável praticar ao piano, fazer contas, escrever ou preparar relatórios por muito tempo de uma vez só: seus neurônios inevitavelmente se cansam. E, com isso, o desempenho cai, às vezes até o ponto de você achar que está... desaprendendo. Mas isso, como quase tudo, tem jeito (ou não estaríamos aqui hoje): o cérebro exaurido repõe suas energias e remove a adenosina acumulada durante o sono. E não precisa ser o sono noturno: uma sonequinha de meia hora já ajuda os neurônios a se recuperar da fadiga e voltar ao zero, prontos para outra. SUZANA HERCULANO-HOUZEL,_ neurocientista,_ é professora da UFRJ e autora de "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com Texto Anterior: Quanto dura o amor? Próximo Texto: Rosely Sayão: O lugar dos filhos na família Índice | Comunicar Erros |
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