São Paulo, quinta-feira, 07 de setembro de 2000
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Academias lançam aulas antiestresse e ganham novo perfil de aluno; ele dá mais importância ao bem-estar do que à aparência
Ofertas zen atraem aluno ioiô e sedentários

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Massagem com bolinha nas costas, exercício da aula de ginástica postural na Bio Ritmo


DANIELA FALCÃO
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO

Peso, step, esteiras e bicicletas ergométricas já não são mais as estrelas nas grandes academias de São Paulo. Um novo cardápio de acessórios e aulas foi criado para atrair aquela turma semi-sedentária, que até acha importante fazer exercício físico, mas tem horror a música alta, aparelhos e suor em excesso. "Tínhamos um feeling de que era preciso oferecer aulas diferentes para os alunos que não se encontravam dentro da academia. Lá fora, já havia uma busca por aulas mais zen, e resolvemos testar", conta Patrícia Lobato, coordenadora-geral da Fórmula. O feeling de que havia um contigente grande de alunos que não se adaptava ao esquema tradicional malhação-suor foi comprovado por pesquisa da Faculdade de Educação Física da USP: 82% dos frequentadores de academias já haviam desistido pelo menos uma vez de praticar exercícios. Os motivos: falta de tempo e de motivação.
Para preservar os alunos "rebeldes", música new age, meditação e até incenso foram sendo aos poucos incorporados pelas academias. No Brasil, o movimento começou de maneira tímida: as aulas eram oferecidas nos horários mais vazios e em salinhas acanhadas no fundo da academia. Mas a receptividade foi grande, e as modalidades zen passaram a ocupar salas e horários nobres. Aulas como ioga e tai-chi-chuan, mais dirigidas para o combate ao estresse do que para a queima de calorias, pipocam no menu das academias. Nas cinco unidades da Bio Ritmo, a oferta zen cresceu 80% de janeiro a agosto deste ano. Nas nove sedes da Runner, o número de turmas de swásthya yôga pulou de 17 no fim de 98 para 27 em agosto passado.
"Além de haver mais horários, o número de alunos em cada turma dobrou", comemora Flávio Moreira, coordenador técnico da equipe de ioga da Runner, formada por ex-alunos do mestre De Rose.
Na Fórmula, as modalidades zen começaram a ser oferecidas no fim de 97, depois que uma sala de squash foi reformada, ganhou piso de madeira e luzes coloridas inspiradas na cromoterapia. "Como não sabíamos o que eles queriam, oferecemos um pouco de tudo: dança do ventre, afro, flamenco, power ioga e tai-chi", conta Lobato. As aulas que propunham autoconhecimento e bem-estar foram as mais procuradas. Quatro novas turmas de ioga foram criadas, e duas estão lotadas.
"A procura por dança afro e flamenca não foi tão grande. Percebemos que os alunos estavam atrás de atividades lúdicas que não exigissem muito esforço físico nem concentração", diz Lobato. De todas as modalidades alternativas da Fórmula, a cama elástica e a ioga são as mais disputadas. "A cada três meses, fazemos um "ioga day" e transformamos a academia com músicas e comidas indianas."

Sem bate-estaca
Boa parte do público que lota as aulas zen procura as academias porque quer entrar em forma, mas não suporta o som bate-estaca das aulas de aeróbica nem os pesos e as caneleiras das de localizada. "Já me matriculei em seis academias, mas sempre paro depois de uns meses por falta de tempo e por preguiça", conta a analista de sistemas Nancy Viscaino, 32, que faz ioga e ginástica postural na Bio Ritmo há três meses (leia descrição das aulas na pág. 10).
A aula de alongamento consciente da Competition contrasta com quase todo o resto da academia. Por isso mesmo atrai um público fiel, que só põe os pés lá dentro para se esticar. Dos alunos descalços à música new age, a aula é o oposto da barulhenta aeróbica que acontece na sala em frente. Os pesinhos coloridos permanecem intocados durante os 60 minutos, e, a pedido da professora, os alunos se espreguiçam e bocejam alto várias vezes ao longo da aula. As mãos são usadas para massagear o couro cabeludo, e bolas de tênis servem para estimular terminações nervosas.

Walk dance
A boa aceitação das aulas zen levou as academias a acrescentar novas modalidades ao cardápio. No início do ano, a Fórmula incluiu aulas de cama elástica, em que os alunos passam 45 minutos brincando de pula-pula. Há um mês, passou a oferecer walk dance. Concebida pela bailarina paulista Helô Gouvêa em 97 como arma para combater a depressão (ela perdeu o marido em outubro de 96 no acidente com o vôo 402 da TAM), a aula também é exercício travestido de brincadeira. Durante 60 minutos, alunos dançam ao som de Michael Jackson, Garth Brooks (cantor country norte-americano) e até Maria Bethânia. No intervalo entre uma música e outra, andam. "As boates tradicionais desapareceram, e as mulheres perderam uma das melhores formas que tinham de extravasar as tensões cotidianas. Minha aula restaura esse prazer", explica Helô, 42. Na filial da Fórmula, que começa a funcionar em janeiro no Market Place (SP), o espaço zen vai aumentar. E, além das luzes de cromoterapia, as salas serão decoradas com princípios do feng shui.


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