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ROSELY SAYÃO
Ser mãe hoje
Por que tantas mulheres desejaram ou desejam ser mãe? Afinal,
essa tarefa é hoje bem
mais do que complexa. Seu
exercício exige um tanto de delicadeza que chega a provocar
irritação e embaraço. É de difícil desenredo porque no exercício dela a mulher erra sempre,
o que torna a tarefa um lance
arriscado que faz suar. "Ser
mãe é um osso duro de roer",
disse-me certa vez uma jovem
mulher, atrapalhada com seus
dois filhos que não se cansavam
de lhe causar cansaço.
A mulher que tem filhos,
atualmente, tem de estar disposta a praticar um ato de quase heroísmo. É que não mais se
trata de criar os filhos, educá-los e deixá-los viver. Há muitos
percalços a enfrentar e superar.
Primeiro, é preciso assumir a
vida pessoal com todo o rigor
que a vida profissional impõe.
Parece óbvio isso, mas é que a
mulher passou tanto tempo como coadjuvante nos mundos
social, econômico e do trabalho
que, agora que alcançou condição de ser também personagem
principal, deixa-se engolir por
esses papéis facilmente. Ela faz
de tudo para dar conta de afazeres profissionais: viaja, faz horas extras, leva trabalho para
casa, participa de reuniões que
avançam na madrugada, atende a chamados profissionais no
celular a qualquer hora etc.
Tanta dedicação, cuja finalidade não é só a de sobreviver no
mundo profissional tão competitivo mas também a de fazer
carreira, suga a energia da mulher, que fica exausta ao fazer a
passagem para sua vida pessoal. Além disso, como a linha
divisória entre privacidade e vida pública tornou-se tênue, fica
cada vez mais difícil resguardar
a vida pessoal, ter prazer ao dedicar-se a ela. Os filhos, que são
parte importante da vida pessoal, são mais facilmente confundidos com o trabalho que
eles dão do que com condição
de resgate de energia, conforto.
O antes chamado lar cada vez
mais é só a casa para a mulher.
Talvez ela tenha se ressentido
de ser a "rainha do lar" por tanto tempo, por isso prefira casa.
Acontece que, na casa, as pessoas moram juntas, mas é no
lar que elas consolidam seus
vínculos afetivos, protegem-se
mutuamente e constroem um
grupo de pertencimento.
Quando a mulher consegue
harmonizar vida pessoal e profissional ainda precisa, ao se
tornar mãe, rebelar-se contra
ideais contemporâneos importantes. Deve, por exemplo, lutar contra a idéia de se manter
jovem permanentemente. É
que ser jovem não combina
com ser mãe, porque cuidar de
um outro exige maturidade. A
mulher jovem não renuncia a
um passeio, por exemplo -já a
mãe, sim. Ela deve, igualmente,
resistir com bravura a pensar
de modo individualista, a priorizar seus impulsos.
Mesmo assim, muitas mulheres desejam ser mãe. Por
quê? Talvez porque esse seja
um modo de driblar a finitude
da vida e os limites do tempo
cronológico. Ao ter filhos, a
mulher garante sua intervenção no futuro, colabora com sua
construção e ainda garante vínculos afetivos duradouros, coisa rara hoje em dia.
Por isso, as mulheres que escolheram ter ou adotar filhos
sabem que vale a pena ser mãe,
no sentido mais exato da expressão
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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