São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2006 |
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em casa Cultivar alimentos em casa ganha novo impulso com aumento do interesse por orgânicos Jardim para comer
AMARÍLIS LAGE
Quando o espaço no apartamento se tornou insuficiente, Yoko passou a ocupar uma área do prédio em que mora. Depois, começou a cultivar no sítio de uma amiga, em Itaguaí (RJ), mandioca-amarela, manga, limão-rosa, limão-china, abacate, castanha, tâmara, cenoura, beterraba e pimentão. Para dispor de mais espaço, decidiu se mudar para um condomínio em Vargem Grande (RJ), onde pretende plantar ainda mais espécies. "Quem planta para vender tem pressa e dá nutrientes em excesso para o vegetal, para que ele cresça rapidamente. Já entre os orgânicos que são vendidos nos mercados, vejo que muitos colhem a planta quando ela ainda está muito jovem. Para mim, só 30% são realmente bons. Quando a gente cultiva em casa, o sabor é completamente diferente, bem mais concentrado", diz. Para quem busca realmente fugir de agrotóxicos, o engenheiro-agrônomo Adão Luiz Castanheiro Martins, que integra o programa de agricultura urbana da Prefeitura de São Paulo, afirma que os alimentos mais indicados são o morango, o tomate e a batatinha, que costumam receber uma quantidade muito grande de defensivos agrícolas no cultivo tradicional.
Nem tudo são flores, porém, no cultivo caseiro. Os produtos, embora geralmente sejam mais fibrosos e com sabor mais acentuado que o dos convencionais, também podem sofrer uma diminuição de tamanho de até 20%, segundo Adejar Gualberto Marinho, técnico da Embrapa Hortaliças. "A planta fica menor do que as cultivadas de forma convencional pois não recebe adubo químico, que faz a planta crescer mais rápido. Uma alface cresce entre 20 e 30 dias, com adubo químico. Numa plantação orgânica, cresce mais lentamente, a folha fica mais bem estruturada, o que acentua o sabor. O tomate não vai ficar redondinho como o da feira", avisa Lito Fernandes, biólogo e responsável pela horta do Spa Igaratá, que oferece cursos para o cultivo de verduras e legumes em casa. Além disso, o fato de elas serem criadas em ambiente urbano não impede a proliferação de pragas, como o fungo oídio, o pulgão e a cochonilha. Para combater o primeiro, uma solução caseira é misturar de 50 ml a 200 ml de leite em um litro de água e pulverizar a mistura na planta. Já para acabar com pulgões e cochonilhas, é possível obter um inseticida caseiro misturando água e fumo-de-corda. O problema é que essa fórmula acaba afetando todos os tipos de insetos, como joaninhas, que são predadoras naturais do pulgão, afirma o zootecnista Gabriel Raia Carneiro, do Spa Lapinha, no Paraná. Uma alternativa é borrifar as plantas com um outro tipo de inseticida, feito com água e uma trepadeira conhecida como melão-de-são-caetano (a proporção deve ser de 50 gramas de folhas para cada litro de água). A mistura deve ficar guardada por dois dias antes da aplicação, que atingirá especificamente os pulgões. Ainda sim, segundo Carneiro, melhor que combater essas pragas é descobrir por que a planta está suscetível a ataques desse tipo. "Joaninhas, formigas e lagartas só se instalam no vegetal em busca de aminoácidos livres, que as plantas liberam quando estão com carência nutricional", afirma. Uma forma caseira de suprir essas necessidades é por meio de um composto orgânico, que pode ser feito com os restos do lixo caseiro, como cascas de frutas, ossos e cascas de ovos. Alguns resíduos, como o sabugo de milho e as cascas de amendoim e de nozes, são ricos em nitrogênio -um componente importante para o crescimento das plantas-, mas têm uma decomposição lenta, por isso, devem ser bem picadas ao serem integradas ao composto. Já cinzas de lareira têm uma boa concentração de potássio, segundo Carneiro. Cuidar da terra Para manter a terra de seu pomar rica em nutrientes, a microempresária Marlene Kauffmann, 64, conta, a cada seis meses, com um serviço especializado. "Elas nunca tiveram problemas", diz ela, que possui uma árvore de acerola, uma pitangueira, uma romãzeira e um pé de laranjinha kinkan na cobertura em que vive, em Higienópolis, bairro de classe média alta na região central de São Paulo. As árvores atraem borboletas, pássaros e as netas de Marlene. "Moro no centro de São Paulo, e minhas netas, quando vêm aqui, conseguem comer fruta do pé. Esse contato com a natureza faz muito bem para todos", diz. Cultivadas em vasos grandes, de até 50 cm de profundidade, as árvores de Marlene chegam a cerca de 1,5 metro de altura. Os bonsais, que ocupam bem menos espaço, também rendem bons frutos, mas demandam alguns cuidados especiais, afirma Juliana Okuda, do Bonsai Okuda. Caso tenha sido feita a adubação foliar (quando o produto é aplicado nas folhas), por exemplo, não é recomendável comer os frutos. Antes de plantar uma árvore frutífera, também é preciso pesquisar sobre as características daquela espécie, para não se frustrar depois. A cerejeira produz bem em vaso, assim como a romãzeira. A jabuticabeira híbrida é capaz de dar frutos até quatro vezes num ano. Já a jabuticabeira sabará demora dez anos para frutificar -tudo bem que uma das coisas que se aprende na agricultura, mesmo que caseira, é a ter paciência. Mas dez anos podem ser tempo demais. Texto Anterior: Neurociência: Você usa apenas 10% do cérebro? Próximo Texto: Em casa: Aprenda a montar uma mesa de queijos com pães Índice |
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