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s.o.s. família
rosely sayão
Respeite as férias infantis como se fossem as suas
Quem tem filhos na escola que se prepare: as férias chegaram. Isso significa
criança em casa, o que sempre modifica -conturba, segundo alguns
pais- o cotidiano familiar. Criança adora férias. Nesse período, ela não tem de
seguir aquela rotina bem rigorosa de horários, de obrigações, de tarefas a cumprir etc. Durante as férias, a criança e o jovem podem dormir até acordar, ou seja, até o sono acabar sozinho, podem fazer suas coisas sem serem atropelados
pelos horários do adulto. Podem ter preguiça sem cobranças.
Quer dizer, eles poderiam fazer tudo isso
se os adultos permitissem e se respeitassem
o período de férias. Mas parece que a gente
grande resolveu abrir guerra contra as
crianças e os adolescentes. Quer ver só?
As escolas de educação infantil, por exemplo, oferecem em julho os chamados "cursos de férias". Em que consiste isso? Em geral, os educadores se requebram para inventar atividades que marquem alguma diferença em relação às oferecidas no período
normal de aulas, para que elas ganhem um
contorno um pouco mais atrativo e parecido com férias e menos com aulas regulares.
Temas centralizadores, que norteiam todas
as atividades dirigidas, passeios e pequenas
excursões, piqueniques, experiências culinárias, contar histórias, vale tudo para entreter a criança.
E esta, como reage? Ela gosta? Sim, não
podemos negar que essa recreação orientada tem lá seus méritos. Então, qual o problema de levar os filhos para tais cursos? Um
deles é o fato de a criança perder a possibilidade de curtir o tempo de férias como bem
quiser. Outro ponto importante: os educadores passam a assumir um papel bem pouco adequado. Transformam-se em animadores, em recreacionistas. Ora, esse papel
cai bem a quem trabalha em bufês, mas não
a professores, certo?
Famílias e escolas têm sua responsabilidade nessa história. Muitos pais solicitam à escola que ofereça esses cursos de férias para
que os filhos não fiquem em casa o tempo
todo, largados ao léu. Eles sempre têm boas
justificativas para essa demanda: continuam trabalhando nesse período e os filhos
criam muita confusão quando não têm rotina e ficam muito tempo sozinhos. A esses
pais dou uma sugestão: que em seu próprio
período de férias decidam passar esse tempo no local de trabalho, desfrutando das
mesmas companhias. Quem se habilita?
As escolas, por sua vez, agem nessa hora
como se fossem um negócio qualquer e se
rendem aos pedidos da freguesia. Para tanto, esquecem todas as teorias do conhecimento que indicam o quanto é importante
para o desenvolvimento da criança que ela
tenha períodos de descanso da rotina, tenha
tempo para aprender a ser sozinha e, com
isso, amadurecer e ganhar autonomia.
E com os alunos do ensino fundamental e
médio, o que acontece? Para esses, os professores têm alvo certo: trabalhos e lições
para realizar no período em que deveriam
pouco se lixar para as atividades escolares. E
há pai que gosta, porque aí tem o que cobrar
do filho. Pais deveriam proibir filhos de fazer lição nesse tempo, tanto quanto não
aceitam -e se aceitam, não deveriam- levar trabalho para casa quando tiram férias.
E sempre é bom lembrar: escola que realiza
seu trabalho com competência no período
letivo não manda lição de casa nas férias.
Só para lembrar: segundo o dicionário
"Houaiss", "férias são um período de descanso a que têm direito empregados, servidores, estudantes etc., depois de passado
um ano ou um semestre de trabalho ou de
atividades". Direito é para ser respeitado.
Essa não é uma das lições que queremos dar
aos nossos filhos e alunos quando os educamos? Como exigir que eles cumpram seus
deveres se não respeitamos seu direito básico de ter férias?
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação
e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha),
entre outros; e-mail: roselys@uol.com.br
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