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S.O.S. família
rosely sayão
Os pais devem preservar sua privacidade
Nossa conversa de hoje trata de um assunto que é nosso velho conhecido: filhos
adolescentes e namoro. Mas o enfoque, solicitado por uma leitora, ainda não foi explorado. Vamos mudar um pouco o rumo e falar sobre o namoro dos pais de filhos adolescentes.
Bem, vamos ampliar e colocar filhos pequenos
nessa conversa também. Para começar, vou
transcrever um trecho da carta dessa mãe de
42 anos que, depois de um ano de separação,
quer retomar a vida passeando, relacionando-se com novas pessoas e namorando também.
"O que me incomoda são meus preconceitos, pois tudo o que faço é escondido dos meus
filhos. Quero preservá-los, mas não sei como.
Será que devo abrir mão de minha vida por
eles?" Não, não. Ninguém deve -nem pode- tomar uma decisão dessas imaginando
que, assim, está abrindo mão da própria vida
em benefício da dos filhos. Tal atitude gera
uma cobrança imensa sobre as crianças e os
adolescentes da qual eles não conseguem dar
conta e que os aprisiona.
Em primeiro lugar, quem é pai ou mãe precisa lembrar-se sempre de sua responsabilidade na vida, ou seja, saber priorizar a educação
dos filhos e o preparo deles para enfrentar a vida com independência, autonomia e a liberdade possível no futuro. Isso é bem diferente
do que priorizar a vida deles. E essa escolha já
foi feita: quando a mulher e o homem tiveram
o filho. E pronto: daí em diante, é apenas uma
questão de honrar a escolha que foi feita e
comprometer-se com ela. Mas é claro que isso
não significa deixar de ter uma vida própria.
Basta adaptar as situações da própria vida à
responsabilidade com os filhos. E isso nem
sempre é simples.
Muitos casamentos não têm a mínima condição de continuar. Outros até têm, mas o casal prefere a separação. Os filhos, na maior
parte das vezes, vão sofrer com essa decisão
dos pais. Mas, se puderem contar com os dois
na continuação da vida, vão superá-la de um
jeito ou de outro. E, depois da separação, é claro que a mulher e o homem podem querer refazer a vida. Nenhum problema. E nossa leitora já percebeu que é preciso apenas um cuidado: o de poupar e preservar os filhos de seus
relacionamentos.
Namorar escondido é coisa de adolescente
cujos pais, por algum motivo, acham que ainda não é hora de o filho estabelecer esse tipo de
vínculo com outra pessoa da mesma geração e
de fora da família. Mas o adolescente pode
acreditar que já tem condições para tanto, e a
saída, então, é transgredir a proibição e fazer
escondido. Aliás, essa é a prova de que proibir
não significa impedir, não é mesmo?
Já os pais, se querem namorar longe da família -o que é bastante salutar, pois poupa as
crianças e os adolescentes de relacionamentos
que podem ser muito rápidos e passageiros-,
não precisam fazer isso escondido dos filhos.
Eles não estão proibidos de namorar, certo?
Apenas devem saber manter sua intimidade
longe das vistas dos filhos. Aliás, os casados
também precisam fazer o mesmo, por isso fecham a porta do quarto e tomam outras providências desse tipo quando querem estar a sós.
Casados ou separados, namorando ou não,
os pais sempre têm uma vida independente da
dos filhos. E essa independência é maior ou
menor de acordo com a idade dos filhos e com
o tanto de cuidados que demandam. Isso é importante para que o filho saiba que, mais cedo
ou mais tarde, poderá tornar-se independente
dos pais e separar-se deles sem ficar com a
sensação de que os estará abandonando.
Os pais não precisam da autorização ou do
consentimento dos filhos para fazer suas escolhas, tomar suas decisões profissionais ou pessoais e definir seu estilo de vida. Os filhos devem, isso sim, ser considerados, respeitados e
priorizados em todos os dias da vida dos pais.
E, para tanto, insisto: é preciso lembrar-se a
todo momento que tê-los foi uma escolha que
precisa ser honrada a todo o custo.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras);
e-mail: roselys@uol.com.br
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