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Fitness
O "parkour", esporte francês que usa objetos da cidade como obstáculos, conquista adeptos no Brasil
Urbano e radical
FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem freqüenta a praça do Reservatório Sumaré, da Sabesp, em São Paulo,
já deve ter prestado atenção na cena:
todo sábado, um grupo de jovens de
idades variadas corre pelo local, pulando, escalando e se equilibrando nos muros, nas árvores e
nas grades que compõem a paisagem. O que a
princípio pode parecer brincadeira de criança
-com manobras bem mais ousadas- é, na verdade, um novo esporte radical criado na França
que começa a conquistar adeptos em várias cidades brasileiras.
O "parkour" -originário do francês "parcours", que significa percurso- consiste basicamente em correr, pular, escalar e fazer manobras, tudo isso usando como obstáculos
muros, canteiros, carros e outros objetos da
paisagem urbana. Apesar de muitas vezes ser
feito em grupo, ele também pode ser praticado
individualmente, no trajeto para o trabalho ou
para a escola, por exemplo.
Desenvolvido pelos franceses David Belle e
Sebastien Foucan, o esporte foi se alastrando
para outros países principalmente por meio
da internet. Os vídeos e fotos com imagens das
manobras feitas pelos "traceurs" -como são
chamados seus praticantes- rodaram o planeta e foram reproduzidos por pessoas dos
mais diversos lugares.
No início do ano passado, um desses vídeos
foi parar nas mãos do animador brasileiro Jacques Kaufmann, 28. "Fiquei impressionado,
mostrei para os meus amigos, a gente se empolgou e começou a fazer", conta ele, que
montou, com os amigos, o grupo Le Parkour
Brasil, que se reúne periodicamente para treinar o esporte. Assim como Jacques, que já lutava kung fu, muitos adeptos do "parkour"
têm em comum o trajeto pelas artes marciais.
"Alguns movimentos são parecidos, como o
rolamento no chão", diz Jacques.
Outro integrante do grupo, o psicanalista
Eduardo Bittencourt, 29, diz que, além de treinar quatro vezes por semana, percorre os 40
minutos a pé para o trabalho praticando uma
modalidade um pouco mais leve do esporte,
que ele chama de "miniparkour". "Sempre levo para o meu consultório uma maleta com
roupa esportiva. Tento usar as calçadas de forma criativa, andar pelas cerquinhas, saltar
canteiros e pequenos lugares. É algo que exige
muito equilíbrio", conta Eduardo, que, devido
à idade média dos participantes -quase todos com pouco mais de vinte anos-, se diz
"praticamente um vovô do "parkour'".
"Muitas pessoas querem fazer uma atividade física que emagreça e deixe o corpo mais
ágil sem precisar ir a uma academia", diz o instrutor de defesa pessoal Leonard Akira Hka,
21, que dá também dá algumas aulas de "parkour" em Bauru e Botucatu (interior paulista).
Ele conta que um aluno, que é executivo,
usou as técnicas que aprendeu para driblar um
engarrafamento. "Ele estava atrasado e ficou
preso no trânsito. Estacionou o carro, tirou o
blazer, colocou uma regata e saiu correndo e
fazendo "parkour". Ao chegar ao trabalho, se
enxugou e entrou no prédio na hora exata."
Segundo Leonard, esse aluno não assume
publicamente que pratica o esporte. "Ainda
existe um preconceito envolvido. É uma atividade muito rápida, alguns acham até que estamos fugindo da polícia", diz.
De fato, a reação das pessoas ao "parkour"
nem sempre é de simpatia. Se há transeuntes
que se admiram, param para ver e tiram fotos,
outros consideram vandalismo e chegam a
chamar a polícia. "Quando eu estou sozinho,
as pessoas se surpreendem e acham que sou
meio maluco. Quando o grupo está junto, é
quase um evento. Tem uma coisa de arte e de
criatividade, de improvisar com o espaço que
se tem. Muita gente gosta e pára para olhar.
Mas tem outro time que acha que estamos
destruindo o lugar", diz Eduardo.
Para evitar conflitos, muitos praticantes do
"parkour" seguem algumas regras, das quais a
não-invasão do espaço privado é a principal.
"Há várias regras de bom senso, como não pular carro ou casa dos outros. O "parkour" é um
esporte mesmo, não um ato rebelde", afirma o
bailarino Diogo Granato, 28, que decidiu começar a treinar quando viu os "traceurs" fazendo manobras na frente da casa onde mora.
"A gente tenta deixar o lugar exatamente como estava quando entramos", resume Jacques. "Não podemos colocar em risco os objetos públicos nem invadir o espaço do próximo", diz Leonard.
EXERCÍCIO COMPLETO
O "parkour" é uma atividade puxada, que
trabalha várias partes do corpo e exige uma
boa dose de equilíbrio. "É um exercício físico
completo. No dia seguinte, você está totalmente cansado, não tem nenhum músculo que você não tenha usado. É um exercício aeróbico,
de impacto muscular e ósseo", afirma Diogo.
De acordo com os "traceurs", isso não significa que pessoas sem um grande preparo físico
não possam se aventurar no esporte. "São movimentos que qualquer um pode fazer. No início, você pula de lugares baixos, claro, mas é
uma questão de auto-superação", diz Eduardo. "Correr, pular, saltar e escalar são coisas
que o ser humano faz há milhares de anos e
que todos deveríamos conseguir fazer naturalmente. O que acontece é que, com a vida moderna, nosso corpo acaba se despreparando",
completa Jacques.
O importante é fazer um bom aquecimento
antes e treinar a forma correta de realizar as
manobras para amortecer o impacto. Há praticantes que usam joelheiras, luvas e caneleiras, mas muitos se valem apenas de uma roupa confortável e um bom tênis.
Se for malfeito, o esporte pode ser perigoso.
"Tem que tomar cuidado para não se machucar. Tem que aquecer antes e fazer os movimentos da maneira mais leve possível. Além
disso, o praticante não pode ser obeso para
não sobrecarregar o joelho", diz Leonard.
Diferentemente do que ocorre com a maioria dos esportes, não há campeonatos de "parkour". "A proposta atual é de que não se torne
um esporte competitivo. A idéia é a superação
pessoal", diz Eduardo.
Alguns países, como a Inglaterra, já têm academias de "parkour". No Brasil, por enquanto, quem quer aprender tem de se juntar a um
grupo ou treinar os movimentos inspirado
nos vídeos -sempre com bom senso, já que
algumas manobras exigem cautela e só devem
ser feitas por praticantes experientes.
A internet é o melhor lugar para encontrar
os "traceurs": muitos deles se reúnem em
blogs e em fóruns virtuais. No site de relacionamentos Orkut, por exemplo, as comunidades sobre o esporte têm centenas de membros.
Não é possível saber ao certo quantos praticantes do "parkour" há no Brasil atualmente,
mas, pelo que parece, o interesse está aumentando. "Está crescendo numa velocidade incrível. Toda semana tem gente nova experimentando pela primeira vez", conta Diogo.
Sites
www.fotolog.terra.com.br/leparkour
www.leparkourbrasil.blogger.com.br
www.le-parkour.com
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