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Poupados e controlados pelos pais, adolescentes desconhecem a frustração, mas têm carta branca para usufruir o prazer
Pais impedem filhos de conquistar autonomia
Marcelo Barabani/Folha Imagem
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Os amigos João Nery, 16, e Beatriz Vilhena, 15, na porta da escola de inglês |
MARGARETE MAGALHÃES -
DA REPORTAGEM LOCAL
Celular, motorista ou mãe para levar na escola, espaço com
privacidade para namorar em casa e, em alguns casos, até liberdade para fumar maconha em domicílio! É uma beleza essa
vida de adolescente, diriam alguns. Um horror em termos de
educação, dizem psicólogos e educadores.
Em nome do que consideram felicidade
e boa qualidade de vida, pais de adolescentes estão correndo o risco de transformar a vida do jovem e também do futuro
adulto em um desastre.
O horário de voltar para casa depois de
uma festa ou autorização para levar a namorada para transar em casa não costumam ser motivos de conflito hoje entre
pais e filhos. Agora, ir de ônibus para a escola ou trabalhar enquanto cursa o ensino médio, por exemplo, é proibido. Ou
melhor, os pais que podem costumam
poupar seus filhos dessas situações.
"Libera-se tudo o que é voltado para o
prazer, o que significa impedir o jovem
de aprender a batalhar pelo que ele quer.
E proibi-se o que é voltado para a conquista da autonomia, o que significa impedi-lo de aprender a enfrentar as dificuldades da vida", resume a psicóloga e colunista do Equilíbrio Rosely Sayão.
"Meus pais não estimulam a minha independência", diz a estudante do último
ano do ensino fundamental Beatriz Vilhena, 15. No ano que vem, pretende começar a trabalhar, o que, segundo ela,
não é incentivado pelos pais. "É bom ter o
próprio dinheiro. Vou morar em Florianópolis com 18 anos, surfar e trabalhar lá.
Esse será meu primeiro passo para a independência."
Do lado do prazer, até droga, ainda que
desaprovada pelos próprios pais, chega a
ser autorizada pelos mesmos a fim de garantir prazer e segurança ao filho -em
casa ele não será preso ou punido é a
idéia que justifica a decisão.
É o caso dos pais de M.M.R., 14, estudante paulistano de classe média alta.
"Eu fumava em casa, era quase liberado.
Meus pais sabiam e diziam que fumar ou
não era uma escolha minha." O problema é que, durante uma viagem feita com
a escola, o jovem foi pego fumando. E os
pais, claro, chamados pela direção. Agora
a situação mudou. "Ultimamente, eles
estão mais no meu pé", diz M.M.R.
Pela experiência do coordenador pedagógico do ensino médio da Escola da Vila, Armando Tambelli, 42, em 95% dos
casos em que os pais franqueiam essa atitude, eles se arrependem.
"O adolescente tem um nível muito
baixo de resistência à frustração. Não desenvolvem resistência a ela, quando na
vida você vai viver uma série de frustrações", completa Maria Stella Scavazza,
coordenadora pedagógica do colégio
Nossa Senhora das Graças.
Ou seja, cair na vida está cada vez mais
distante da realidade do jovem. Suas
frustrações são poupadas e as dificuldades, facilitadas. O problema é que
"aprende-se a nadar, nadando", diz o psicólogo da USP Yves de la Taille.
O estudante do 1º ano do ensino médio
João Nery, 16, parece que tem consciência disso. "A minha pergunta é como vou
me tornar independente. Tenho certeza
de que ela acontecerá a duras penas. Sou
muito acomodado. Pobre tem mais vontade de subir, e classe média pode acontecer de cair," diz preocupado.
Autonomia e independência, dizem os
especialistas, é algo que os jovens devem
ter a chance, dada pelos pais, de conquistar. Mas isso não significa liberar os filhos
para encarar os perigos inadvertidamente. "Você tem que instrumentalizar. Deixar o filho ir à escola de ônibus implica
riscos, o que é dar autonomia, mas conquistá-la exige responsabilidade", diz o
coordenador pedagógico do Colégio
Equipe, Ricardo Lobo. Esse senso de responsabilidade deve ser transmitido pelos
pais, orientando os filhos sobre a melhor
forma de agir segundo seus valores e alertando sobre seus riscos. "Isso dá chance
ao filho de crescer, de agir, devidamente
instrumentalizado, segundo a sua escolha", diz Sayão. "Se prender demais, fica
um bobo", acrescenta Maria Ângela Antunes, orientadora educacional do Colégio Bandeirantes.
Confira, ao lado, 13 formas de agir com
o filho adolescente e, na página seguinte,
o que dizem os especialistas sobre cada
uma delas.
"A minha pergunta é como vou me tornar independente. Tenho certeza de que minha independência acontecerá a duras
penas. Sou muito acomodado. Pobre tem mais vontade de
subir, e classe média pode acontecer de cair"
João Nery,16,
estudante do ensino médio na Faap
"Meus pais não estimulam a minha independência. Vou morar em Florianópolis com 18 anos, surfar e trabalhar lá. Esse
será meu primeiro passo para a independência"
Beatriz Vilhena, 15,
estudante da 8ª série do fundamental no Logus
"Eu fumava maconha em casa, era quase liberado. Meus pais
sabiam e diziam que fumar ou não era uma escolha minha...
Ultimamente, está mais difícil, eles (os pais) estão mais no
meu pé"
M.M.R,14,
estudante
"O adolescente tem um nível muito baixo de resistência à
frustração. Não desenvolve resistência a ela, quando na vida
você vai viver uma série de frustrações"
Maria Stella Scavazza,
coordenadora pedagógica do Nossa Senhora das Graças
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