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S.O.S. família - Rosely Sayão
Crianças e jovens VIP
Toda a educação começa em casa -dessa
afirmação ninguém
duvida. Também sabemos agora, mais do que nunca, que não é apenas a família a
responsável pela educação.
Aliás, nenhuma criança deve ficar submetida apenas à prática
educativa familiar se almejamos uma sociedade democrática. Como todo pequeno grupo,
o familiar sempre apresenta
seus preconceitos, suas próprias tradições e, principalmente, seus limites.
Para isso, contamos com a escola, a segunda instituição responsável formalmente pela
educação, e sabemos que ela
tem enfrentado dificuldades
para dar conta dessa função.
Acontece que as crianças e os
jovens não se comunicam apenas com essas duas instituições
-eles estão em contato permanente com toda a sociedade e
observam atentamente os movimentos à sua volta, os assuntos em discussão, os temas sociais em destaque. Tal participação, mesmo que à distância,
resulta em um aprendizado: a
visão de como é a vida. Toda a
comunidade educa, e todos têm
sua quota de responsabilidade.
Nesse sentido, quero destacar uma característica do nosso
estilo de viver que já invadiu a
vida dos mais novos: a busca de
privilégios pessoais. Nossa sociedade tem uma queda pela
palavra VIP e por seu significado. O que é ser VIP? Nada mais
do que se destacar por desfrutar de regalias em detrimento, é
claro, da maioria.
São VIP as pessoas que têm
muito mais dinheiro ou pistolão, que têm fama ou são amigas das que têm, que estão na
mídia e nas colunas sociais, que
consomem muito e com regularidade em determinados estabelecimentos etc. Em muitas
situações, ser VIP significa ter
passaporte para ser fura-fila.
Em uma reportagem da Folha do último domingo a respeito dos embalos da noite, a
jornalista Mônica Bergamo
mostrou bem como isso funciona para quem busca as diversões noturnas. Cliente VIP não
pega fila: passa na frente, entre
outras vantagens. Uma freqüentadora habitual de casas
noturnas que desfruta desse
privilégio declarou: "O pessoal
na fila fica olhando, mas o azar
é deles". Ela tem 19 anos.
Um casal de leitores, pais de
um garoto de 12 anos, enviou
correspondência indignada
alertando para o mesmo fato
em um local de diversão para
crianças e adolescentes. O empreendimento oferece um serviço chamado "atração VIP"
(passaporte que permite a entrada em uma atração sem a necessidade de entrar na fila).
Volto a lembrar que nunca
falamos tanto sobre educação
para a cidadania. Ora, o que significa isso senão ensinar a viver
em comunidade e a cultivar
conceitos fundamentais como
justiça, igualdade, solidariedade, respeito? Mas parece que
nosso discurso é vazio, já que
continuamos a cultivar a cultura das vantagens, não é verdade? Na "hora do vamos ver",
apelamos para a chamada "lei
de Gerson".
Creio que é hora de dar um
passo importante nos assuntos
que envolvem a educação. Precisamos sair da reclamação para alcançar a transformação. Já
reclamamos o suficiente da falta de limites das crianças e dos
jovens, da forte influência da
mídia no comportamento deles, da falta de respeito que eles
demonstram com a autoridade
dos pais e dos professores etc.
Acontece que estamos implicados com todos esses assuntos
até os ossos, por isso precisamos agir e assumir nossa parcela de responsabilidade, e não
apenas reclamar dos outros.
Quando decidimos que a
educação para a cidadania é
uma questão importante para
os mais novos, precisamos dar
valor a essa nossa decisão e nos
empenhar pessoalmente.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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