São Paulo, terça-feira, 09 de novembro de 2010 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Solidão no Facebook As redes sociais mascaram a ausência de comunicação entre as pessoas, diz o sociólogo francês Dominique Wolton
MARCOS FLAMÍNIO PERES
Agora que o Facebook virou filme e as redes sociais
parecem ter liberado o homem para toda forma possível de comunicação, vem um
intelectual francês dizer que
vivemos sob a ameaça da
"solidão interativa".
Folha - Como vê a internet? Dominique Wolton - Faço parte de uma minoria que não é fascinada por ela. Claro, é formidável para a comunicação entre pessoas e grupos que se interessam pela mesma coisa e, do ponto de vista pessoal, é melhor do que o rádio, a TV ou o jornal. Mas, do ponto de vista da coesão social, é uma forma de comunicação muito frágil. A grandeza da imprensa, do rádio e da TV é justamente a de fazer a ligação entre meios sociais que são fundamentalmente diferentes. Nesse sentido, a internet não é uma mídia, mas um sistema de comunicação comunitário. Mas e as redes sociais? Elas retomam uma questão social muita antiga, que é a de procurar pessoas, amigos, amor. São um progresso técnico, sem dúvida, mas a comunicação humana não é algo tão simples. Porque em algum momento será preciso que as pessoas se encontrem fisicamente -e aí reside toda a grandeza e dificuldade da comunicação para o ser humano. Então a solidão é um risco nessas redes? Sem dúvida: a "solidão interativa". Podemos passar horas, dias na internet e sermos incapazes de ter uma verdadeira relação humana com quer que seja. Isso tem a ver com o conceito que criou -o de "sociedade individualista de massa"? Sim, porque na comunicação ocidental procuramos duas coisas inteiramente contraditórias: a liberdade individual -modelo herdado do século 18- e a igualdade por meio da inserção na sociedade de massa -que é o modelo do socialismo. Usamos a internet porque ela é a liberdade individual. Na internet, todo mundo tem o direito de dar sua opinião, mas emitir uma opinião não significa comunicar-se. Porque, se a expressão é uma fase da comunicação, a outra é o retorno por parte de um receptor e a negociação que implica -e isso toma tempo! Há um fascínio pela rapidez da internet e por sua falta de controle. Mas essa falta de controle é demagógica, porque a democracia não é a ausência de leis, mas a existência de leis utilizadas por todos. A internet foi decisiva para a eleição de Barack Obama? Acho que se projetou um sonho que não correspondeu à realidade. Obama sempre foi ligado às questões sociais e sabia de sua importância. O que fez foi usar a internet para multiplicar a eficácia dessas relações. Usou a internet de modo bastante clássico. O Google está nos tornando estúpidos? Ele está se tornando a primeira indústria do conhecimento, concentrando de forma gigantesca a informação e o saber -o que é um perigo. Se um grupo de mídia quisesse concentrar toda a distribuição de informação, alguém diria: "Atenção, monopólio!". Mas não se faz isso em relação à internet, tamanho é o fascínio pela técnica na sociedade atual. O papel está condenado? Ao contrário! Porque internet é rapidez, livros e jornais são lentidão e legitimidade -informação organizada. A abundância de informações não suprime a questão prévia de que educação é formação. Texto Anterior: Roda e avisa: Produtos, serviços e ideias para o corpo e o espírito Próximo Texto: Frase Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |