São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2008
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ODONTOLOGIA

achados e perdidos

Fora da caixa, embrulhado no guardanapo ou jogado na bolsa, aparelho removível acaba sendo perdido ou indo parar no lixo; saiba como conservá-lo por mais tempo

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Não faz um ano, Marina de Marchi Gorgueira, 16, viu-se novamente à procura do aparelho ortodôntico removível. Depois de esquecê-lo em bolsas e em lanchonetes, ela já estava até acostumada com esse tipo de situação. Mas, dessa vez, tinha certeza de que o havia deixado na cabeceira da cama. Procura daqui e dali, ela o encontrou: na boca de Fred, o poodle da família, animado com o novo brinquedo.
"Eu não conseguia pegar o aparelho de volta, chegava perto e ele rosnava", diverte-se a estudante. A solução foi mandar fazer um novo aparelho -o quarto, o quinto, o sexto?
Marina já nem se lembra. Acostumada a visitar o consultório da ortodontista desde os quatro anos, ela perdeu a conta de quantos já perdeu ou quebrou. "Na última vez, eu coloquei na mochila e, quando fui guardar o material, acabei quebrando uma ponta do aparelho."
Até a mãe de Marina, a publicitária Catarina de Marchi, 44, tem culpa no cartório. "Fomos a uma lanchonete e eu guardei o aparelho na bolsa enrolado em um guardanapo. Depois, vi aquele papel amassado e joguei no lixo."
Enrolar o aparelho no guardanapo é uma das causas mais comuns de perda, conta Ivana Uglik Garbui, diretora da Apeo (Associação Paulista de Especialistas em Ortodontia). "As pessoas embrulham o aparelho para comer e deixam na bandeja, ou jogam no lixo.
A gente brinca que o McDo-nald’s é o maior centro de aparelhos perdidos", comenta. A consultora de comunicação Lara Rocha Garcia, 23, que usou aparelho ortodôntico dos 9 aos 19 anos, conta que já teve que revirar cestos de lixo após jogar o aparelho com o resto do lanche, além de ter cometido outros erros comuns, como guardá-lo sob a carteira, no colégio, de onde ele caía e acabava sendo pisado.
"Meu aparelho era rosado, mas todo remendado com partes brancas, devido às restaurações", lembra ela, que o tirava ao chegar à escola porque achava o aparelho removível feio. "Bonito mesmo era o fixo, com elásticos coloridos. Quando coloquei o fixo, foi ótimo, pois eu não tinha mais de me preocupar com o aparelho quando comesse alguma coisa."

Dentes de leite
Segundo Garbui, os aparelhos removíveis costumam ser os mais indicados para crianças que ainda têm dentes de leite, enquanto o fixo é mais usado para tratar a dentição permanente. "Geralmente, os removíveis são usados numa primeira fase e ajudam a redirecionar o crescimento dos dentes. O fixo faz um acabamento, com movimentos que o removível não faz, como corrigir a rotação de um dente."
João Sarmento, professor do departamento de odontologia infantil da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), ressalta que os dentes de leite têm uma anatomia diferente, e suas raízes não suportam a força que o aparelho fixo proporciona.
Depois do tratamento, o aparelho removível também pode ser utilizado para manter o resultado. De acordo com Sarmento, existem alguns aparelhos removíveis de contenção que não precisam ser retirados para a alimentação.
Mas, quando é preciso retirar o aparelho para comer, o ideal, afirmam os especialistas, é guardá-lo em uma caixinha específica. Para evitar esquecimentos, Garbui recomenda que os pacientes tenham mais de um caixa -estudantes, por exemplo, podem deixar uma em casa e outra na mochila.
Guardar o aparelho no bolso é outro problema recorrente, que pode tanto quebrar como deformar a placa ou os fios. Descuidos à parte, problemas como bruxismo também podem forçar o aparelho e levar à quebra do fio, afirma Garbui.
Independentemente da origem do problema, "se o aparelho deformar, o paciente não deve tentar ajeitá-lo por conta própria", avisa Sarmento.
"Usar o aparelho assim pode acabar agravando o problema."
O ideal é procurar o dentista o quanto antes, já que, quando o paciente fica sem o aparelho, toda a seqüência de estímulos que era feita sobre os dentes é interrompida, diz Garbui. "Não que a recidiva seja total, mas ela ocorre."
Mesmo após dez anos de tratamento, Lara percebeu essa recidiva quando deixou de usar o aparelho removível -a indicação do dentista era de que continuasse a usá-lo durante a noite, "mas eu não aguentava mais, queria me libertar", conta a consultora.
Após seis meses, percebeu que um dos dentes voltou a desalinhar. "Tentei colocar o aparelho de novo, mas ele não cabia mais na boca. Fiquei apavorada", lembra ela. Mas o desvio, felizmente, não se agravou.

Limpeza
As confusões também são comuns na hora de limpar o aparelho. Marina, por exemplo, costuma escovar a placa e limpá-la com anti-séptico, o que é correto. Mas também acredita que mergulhar o aparelho em refrigerante de cola ajuda a limpá-lo, já que a bebida é corrosiva. Segundo Sarmento, trata-se de um erro. "Além de não limpar nada, o refrigerante tem pigmentos que são absorvidos pela placa, que é feita de acrílico, e o aparelho fica feio", diz.
Garbui afirma que a própria pasta de dente também pode impregnar-se na placa com o tempo e ela pode ser substituída por sabão neutro. Além disso, pastilhas efervescentes específicas para higienização podem ser utilizadas. Outra recomendação é usar para a limpeza do aparelho uma escova com cerdas mais duras.
Caso o aparelho vá parar acidentalmente no lixo "e seja resgatado a tempo", a dica é higienizá-lo com um produto anti-séptico, como a solução de Milton ou o líquido de Dakin, diz Garbui. Segundo ela, essas substâncias estão à venda em farmácias e se parecem com a água sanitária, embora sejam mais suaves. O líquido de Dakin, por exemplo, é utilizado para limpeza no tratamento de canal, afirma. "Basta diluir a solução em água, deixar o aparelho de molho durante pelo menos 30 minutos e, depois, escová-lo", explica. Como a solução não tem gosto agradável, Garbui também sugere lavar o aparelho com anti-séptico bucal antes de voltar a usá-lo.
E nem pensar em ferver o aparelho -como ele é feito de resina, pode deformar em altas temperaturas.


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