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ROSELY SAYÃO
roselysayao@uol.com.br
Nem tudo é "Êxito"
Há coisas mais importantes no papel dos pais do que acompanhar a vida escolar do filho
ASSISTI a um comercial na
televisão muito interessante.
Para falar a verdade, nem me
lembro do produto anunciado, porque o desenvolvimento da narrativa me prendeu
tanto a atenção que não fixei
mais nada.
Na primeira cena do filme,
aparece um garoto brincando
em um parque. Ele não consegue se equilibrar em um dos
brinquedos e a câmera mostra a sua queda. Com a feição
expressando dor e susto, o
menino é levado pela mãe ao
atendimento médico.
A cena seguinte mostra essa mesma mãe em seu ambiente de trabalho com um
semblante muito preocupado. Sua colega pergunta qual
o motivo de sua preocupação
e prontamente ela responde
que é o filho.
"O que foi que ele aprontou
desta vez?", pergunta a colega que, segundo sugere o comercial, já está acostumada
com acontecimentos que envolvem o garoto e perturbam
essa mãe. "É a escola. Ele ficou para recuperação de matemática" foi a resposta.
Aí está: os autores dessa
peça publicitária conseguiram captar muito bem o que
se passa na atualidade com
quem tem filhos. Muitos pais
estão realmente convencidos
de que a coisa mais importante na vida das crianças e dos
adolescentes é a vida escolar
deles e seu aproveitamento
nos estudos.
Decidimos, no mundo contemporâneo, que o preparo
dos mais novos para o futuro
quase que se resume ao êxito
escolar.
Procissões de pais buscam
escolas consideradas boas
porque seus alunos conseguem entrar em boas faculdades ou notas altas em exames nacionais, como no
Enem, por exemplo.
Um número cada vez
maior de pais se sente obrigado a acompanhar pari passu
os deveres escolares dos seus
filhos a serem feitos em casa.
Não faltam pesquisas, depoimentos, campanhas que conclamam os pais a uma participação ativa na vida escolar
dos filhos.
Já é hora de refletirmos a
esse respeito. E, para isso, vamos começar com uma frase
de Natalia Ginsburg extraída
de "As pequenas virtudes".
"Estamos aqui (os pais) para
reduzir a escola a seus limites
humildes e estreitos; nada
que possa hipotecar o futuro;
uma simples oferta de ferramentas, entre as quais é possível escolher uma para desfrutar amanhã."
Segundo a autora, a importância exagerada que os pais
costumam dar ao rendimento
escolar do filho é fruto do respeito à pequena virtude do
êxito, apenas isso.
Há coisas muito mais importantes no papel de mãe e
de pai do que fazer as lições
de casa com o filho e acompanhar sua vida escolar. Uma
delas é socializar a criança.
Crianças precisam aprender com os pais que não vivem sozinhas, e sim em grupo. Isso significa, entre outras
coisas, aprender a conviver
com os outros de modo respeitoso, a se cuidar para se
apresentar bem, a se comunicar de maneira adequada, a
se comportar em ambientes
diferentes.
Outra tarefa importante
dos pais é a de dar educação
moral aos filhos. Precisamos
reconhecer que, hoje, boa
parte das crianças se envergonha de não ter o que os colegas possuem, mas não sentem vergonha de fazer coisas
que não podem fazer como
furtar pequenos objetos,
mentir, agredir e humilhar outras crianças e até adultos.
Do mesmo modo, não sentem constrangimento algum
em perturbar pessoas que estão ao seu redor.
A formação do caráter dos
filhos, a educação moral, o
desenvolvimento de virtudes
e o preparo para o convívio
são aspectos da educação
que valerão muito mais para
as crianças no futuro do que o
êxito escolar.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de
"Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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