São Paulo, terça-feira, 11 de janeiro de 2011
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ANNA VERONICA MAUTNER

ATENÇÃO, CAPRICHO E PRECISÃO


Nem todo mundo nasce caprichoso, e há demanda de mão de obra que entregue encomendas benfeitas


NÃO HÁ dia em que os meios de comunicação -jornais, especialmente- não dediquem espaço para comentar a atuação de instituições cuja função é pensar a formação do homem no século 21.
Isso ocorre não só no Brasil. A mídia internacional também dá espaço para essa questão. Pode ser que aqui o problema seja mais agudo, o que não impede que o primeiro mundo se preocupe da mesma forma.
Hoje mesmo li uma longa matéria sobre uma milionária dotação feita em um país do Oriente Médio, cujo objetivo é tão simplesmente a decantada "educação".
Nessa época de transição, é difícil vislumbrar o homem que queremos formar, aquele que venha a responder às necessidades de hoje e de amanhã. Quais são essas necessidades? Que aptidões e conteúdos são necessários e mesmo, por que não, indispensáveis para o homem do futuro?
Lá pelos meados do século 20, durante a Segunda Grande Guerra, o Ocidente sacou que a criatividade se tornava, cada vez mais, algo não só desejável, mas necessário.
Foram desenvolvidas tecnologias de sala de aula para incentivar a prontidão para inovação, a saber, a criatividade. Quando uma sociedade precisa de mais pessoas criativas do que aquelas que nascem e se criam criativas naturalmente, há que gerar tecnologia para desenvolver essa aptidão.
Diríamos que as técnicas de incentivo para treinar inovação já fazem parte do pensar da educação escolar.
Anteriormente, a ênfase estava na ordem, na aplicação, no fazer a tarefa benfeita do começo ao fim.
Nos últimos sessenta anos, essa parte do treinamento dos jovens caiu em desuso. O "fazer benfeito, direito, caprichado" ficou como um anacronismo.
Só que nem todo mundo nasce caprichoso, da mesma forma que não nasce criativo.
E há demanda de mão de obra capaz de entregar encomendas benfeitas.
Mesmo a criatividade precisa ser vista e revista, para que os encaixes suaves ocorram. O plugue precisa acertar-se com a tomada. A bainha da roupa precisa ser benfeita. A receita de bolo demanda atenção às medidas.
Mais ou menos dá curto-circuito; costura torta faz roupa torta, bolo solado nenhuma dona de casa ofereceria às visitas.
Rodeados por e dependentes de eletroeletrônicos, precisamos atentar para a precisão. Senão o som não sai, a luz apaga, o liquidificador espirra, o fogão não acende etc.
Esse mundo mecânico/ elétrico/eletrônico demanda, cada vez mais, mão de obra viciada em precisão, atenção e capricho.
Espero que a quantidade de cabeças pensantes, tendo disponíveis as imensas dotações, consiga não só elaborar grandes teorias, mas também jeitos de fazer e de transmitir esse saber miúdo. (Esses detalhes não encantam as grandes cabeças, pois eles são a alma da tecnologia.)
Fazer, rever, corrigir, verificar de novo daqui a pouco, o mundo clama por isso. Na fábrica, na oficina, nos escritórios de projeto, entre operários e doutores.

ANNA VERONICA MAUTNER, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (ed. Ágora)

ROSELY SAYÃO A colunista está em férias


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