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Físico faz aula de meditação e comprova resultados
ROBERT MATTHEWS
DO "FINANCIAL TIMES"
Dizem as revistas de estilo de vida que é possível "criar um novo você". Mas, quer consigamos ou não nos livrar de alguns
quilinhos ou começar a correr, a verdade deprimente é que continuamos a ser as mesmas pessoas estressadas de sempre. Nossos
corpos podem ficar com aparência melhor, mas nossas mentes
serão as mesmas, e não temos como mudar essa situação.
Ou será que temos? Será que existe o
equivalente mental de uma dieta ou de
exercícios para deixar nossa mente mais
saudável e em boa forma?
Essa possibilidade está emergindo a
partir de uma pesquisa que reúne a ciência neurológica do século 21 e a técnica da
meditação budista. Seus praticantes afirmam que ela lhes confere os meios de
acalmar suas mentes, observar seus processos mentais em ação e modificá-los.
Essas afirmações começam a ser confirmadas por alguns estudos científicos rigorosos sobre as experiências de pessoas
que meditam. Os primeiros resultados
parecem confirmar o que os budistas dizem: que a meditação permite a observação e a modificação das reações mentais.
O professor Paul Ekman, da Universidade da Califórnia em San Francisco, e
seus colegas colaboraram com um lama
budista tibetano altamente avançado em
estudos sobre o chamado "reflexo do
susto" -a reação automática que manifestamos a sons repentinos e cuja intensidade está correlacionada a emoções negativas, tais como a ira ou a infelicidade.
Sabe-se que é impossível reprimir a
reação. Apesar disso, nos testes conduzidos com o lama tibetano enquanto meditava, ele praticamente não exibiu reação.
Estudos do eletroencefalograma do lama conduzidos pelo professor Richard
Davidson na Universidade de Wisconsin,
em Madison (EUA), apontam para uma
explicação. Durante a meditação, o cérebro do lama revelou um aumento marcante da atividade no córtex pré-frontal
esquerdo, região associada à sensação de
bem-estar e felicidade -sentimentos
que combatem o reflexo do susto.
A pesquisa pode ajudar a confirmar o
que os budistas dizem sobre a meditação,
mas como ela ajuda nós outros, que não
podemos passar décadas praticando-a? A
boa notícia é que os cientistas estão descobrindo que, assim como acontece com
o estar em forma física, é preciso relativamente pouco esforço para ganhar certo
nível de boa forma mental.
Um estudo publicado recentemente no
"Psychosomatic Medicine" traz os resultados obtidos por funcionários de uma
empresa de biotecnologia de Madison
submetidos a um treinamento básico em
meditação. Um grupo de 25 funcionários
foi escolhido para treinar ""meditação de
atenção", que envolve simplesmente o
tomar consciência dos pensamentos à
medida que ocorrem e deixá-los ir embora, sem julgá-los. Após oito semanas,
com 14 horas de meditação, o grupo relatou um aumento importante nas emoções positivas e uma queda na ansiedade
e na negatividade, em comparação com
um grupo de colegas que não fizeram o
treinamento. Essas reações foram confirmadas no estudo dos eletroencefalogramas: os funcionários que treinaram meditação exibiram a mesma transferência
da atividade cerebral para o córtex pré-frontal já observada no lama tibetano.
Os resultados apontam para um paralelo intrigante entre bem-estar físico e
mental. Pesquisas recentes sugerem que
é preciso menos esforço do que muitas
pessoas acreditam para chegar à boa forma física: bastam 30 minutos diários de
caminhada rápida para garantir benefícios consideráveis. A julgar por esses estudos pioneiros sobre o treinamento
mental budista, talvez bastem 30 minutos
diários de meditação para colocar nossa
mente em forma também.
Intrigado pelas evidências científicas,
matriculei-me num curso breve de meditação no Centro Budista Tibetano Kagyu
Samye Dzong, em Londres. O lama
Zangmo, nosso instrutor sempre humorado, fez que nós começássemos com o
método mais simples de meditação, conhecido como "shinay", que consiste em
ficar sentado com os olhos fechados, centrando a atenção na respiração.
"É simples", pensei, mas descobri que
era surpreendentemente difícil de fazer: a
cada poucos segundos, minha mente começava a perder-se em longas cadeias de
pensamentos. Será que paguei o cartão
de crédito? Vamos ter dinheiro para fazer
aquela viagem? Então, a voz mansa do lama Zangmo fazia-nos lembrar que não
devíamos seguir nossos pensamentos,
mas deixar que fossem embora.
No último dia do curso, eu ainda estava
me esforçando para deixar a cadeia de
pensamentos ir embora. Sentei-me para
a última sessão de meditação com um
sentimento de resignação. Mas, após cerca de 20 minutos, aconteceu: os pensamentos deixaram de invadir minha mente, e eu me senti "presente". Foi algo que
me fez sentir uma satisfação estranha, como se eu, de repente, descobrisse que
conseguira controlar os tripulantes desobedientes de uma embarcação.
Isso me motivou a continuar meditando. O fato de passar algum tempo apenas
observando minha mente me levou a tomar consciência do caráter efêmero dos
estados de espírito e a aprender a impedir
que eles saiam do meu controle. Agora,
quando as crianças não querem se vestir
pela manhã, o ônibus escolar está prestes
a partir e o cachorro não pára de latir,
ainda sinto minha raiva subindo como
leite fervente prestes a transbordar, mas
consigo "dar um passo para trás" e, mentalmente, desligar o fogo.
Robert Matthews é professor visitante de ciência
na Universidade Aston, em Birmingham, Reino
Unido. Tradução de Clara Allain
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