São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2010
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SAÚDE

Método aprovado

Especialistas respondem a 20 dúvidas sobre a pílula anticoncepcional, cuja aprovação completa 50 anos

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Funcionária manipula pílulas em fábrica de São Paulo

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Maio de 1960. No início da década marcada pelos movimentos de contestação da ordem política, social e cultural, uma notícia prenunciava boa parte do que estava por vir: a FDA, agência reguladora de remédios dos EUA, aprovou a primeira pílula anticoncepcional combinada.
Vendida com o nome de Enovid, era composta por 150 mg de estrogênio sintético e 9,85 mg de derivado de progesterona -sete a dez vez mais hormônios do que a pílula atual.
"A invenção da pílula revolucionou a sexualidade feminina e abriu caminho para o movimento de libertação da mulher. Permite [às mulheres] planejar o número de filhos e o momento apropriado para tê-los", afirma Ângela Maggio da Fonseca, professora de ginecologia da USP e uma das autoras de "História da Anticoncepção" (ed. Casa Leitura Médica).
Para a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Instituto de Psiquiatria da USP, a pílula permitiu que mudanças que já vinham se desenhando desde o fim da 2ª Guerra Mundial se consolidassem.
Além de dar às mulheres autonomia para controlar a concepção, sua alta eficácia fez com que fosse rapidamente adotada em vários países. Em 1962, já era vendida no Brasil.
Mas havia um ônus: a alta taxa de hormônios da primeira pílula trazia uma cascata de efeitos colaterais. "A aprovação foi baseada em um estudo que foi duramente criticado por erros metodológicos", conta Fonseca. De transtornos de humor a casos de tromboembolismo, seus efeitos eram munição para os opositores -nem sempre por motivos médicos.
As empresas começaram, então, a pesquisar fórmulas mais seguras. Na década de 1970, surgiu a segunda geração de pílulas, com menos hormônios sem perda da eficácia.
Na década de 1990, a terceira geração de pílulas chegou ao mercado. Além de evitarem a gravidez, elas oferecem benefícios extras, como aliviar sintomas de TPM ou acne.
"Hoje, podemos indicar a pílula mais adequada às condições de saúde de cada mulher", afirma Edmund Baracat, professor de ginecologia da USP.
A década passada também viu renascer a polêmica sobre o método, com o advento da pílula do dia seguinte. Desenvolvida para ser tomada após o ato sexual, é acusada de ser abortiva -embora as entidades médicas neguem.
O debate deve continuar quente no século 21, com a introdução, na Europa, de uma pílula que pode ser tomada até cinco dias após o ato sexual.
Quanto às pílulas de uso diário, a novidade é o desenvolvimento de um novo tipo de estrógeno, quase idêntico ao produzido pelo corpo. Nos últimos 50 anos, embora novos derivados de progesterona tenham sido criados, o componente estrogênico não mudou.
"Ainda não há estudos suficientes sobre essa nova pílula [vendida só na Europa], mas usar uma substância quase idêntica aos hormônios naturais pode diminuir problemas como o risco de trombose", diz Carlos Alberto Petta, professor de ginecologia da Unicamp.


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