São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008
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OUTRAS IDÉIAS

Wilson Jacob Filho

Experiência na Olimpíada


[...] ALÉM DE SER MAIS RÁPIDO, MAIS FORTE E MAIS ÁGIL DO QUE OS DEMAIS, O SER HUMANO DEMONSTROU QUE PODE SER TUDO ISSO POR MAIS TEMPO

Muito embora já se tenham acalmado os ufanistas mais inflamados e os críticos mais ferozes, ainda é tempo de entender melhor o que vimos semanas atrás.
Nossa participação na Olimpíada não foi nem tão espetacular quanto idealizada nem tão medíocre quanto alardeada. Em verdade, mostramos algumas das nossas qualidades e muitos dos nossos defeitos, avaliados e comparados com os defeitos e qualidades dos demais, em diferentes aptidões.
Todos puderam ver o ser humano medindo sua competência em milímetros, milissegundos ou qualquer outra unidade absolutamente inexpressiva para o nosso cotidiano.
Para tal, não foram utilizados apenas os dotes físicos e psicológicos dos atletas mas também os diferentes tipos de doping, os trajes e calçados especiais e os equipamentos cada vez mais sofisticados. As novas formas de registrar imagens nos propiciou ver detalhes que o olho nu não permitiria. Até os árbitros, atualmente, pouco decidem sem a ajuda eletrônica.
Em contrapartida, também presenciamos a expressão dos sentimentos mais intrínsecos ao ser humano, como o abraço das atletas que representam países em guerra ou a agressão do lutador ao juiz que considerou seu adversário vencedor. E vimos países que sacrificaram seus atletas para mostrar sua soberania, enquanto outros contrataram esportistas a despeito de sua nacionalidade.
Tudo isso foi valorizado pelos veículos de comunicação.
Há um aspecto, porém, que gostaria de ressaltar. Além de ser mais rápido, mais forte e mais ágil do que os demais, nesta Olimpíada o ser humano demonstrou que pode ser tudo isso por mais tempo.
Assim foi não apenas em atividades de precisão, como o tiro, ou essencialmente aeróbicas, como as provas longas, nas quais sabidamente há menor influência etária. Ao contrário, os melhores exemplos da longevidade esportiva ocorreram em provas de explosão.
Poucos notaram que a segunda melhor ginasta no salto sobre o cavalo é uma russa naturalizada alemã com 33 anos que, em outros tempos, há muito já se teria transformado em treinadora ou árbitra.
Demonstrando que esse fato não é apanágio dos países desenvolvidos, a brasileira Maureen Maggi, 32, atestou ser possível retornar aos treinos após três anos, obtendo marca suficiente para superar todas as adversárias no salto em distância.
Surpreendente, porém, foi a americana Dara Torres, que aos 41 anos ganhou três medalhas de prata nas provas mais rápidas da natação. Foi maravilhoso ver aquela mulher, que já participara dos Jogos de Los Angeles, em 1984, alinhar-se a oponentes com 16 anos, concluir a prova dos 50 metros livres apenas um centésimo de segundo atrás da vencedora e muito à frente das que poderiam ser suas filhas mais novas.
Não tenho dúvidas de que somos uma espécie em evolução.
Somos hoje capazes de fazer por muito mais tempo aquilo que no passado era permitido apenas aos muito jovens.


WILSON JACOB FILHO , professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor de "Atividade Física e Envelhecimento Saudável" (ed. Atheneu)

wiljac@usp.br


Leia na próxima semana a coluna de Michael Kepp


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